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REGIÃO. Nos últimos trinta dias três suicídios foram registrados em Rio Negrinho. As ocorrências, sem dúvida assustam mas o que assusta ainda mais são os resultados preliminares de um estudo sobre as ocorrências de suicídio em Rio Negrinho, São Bento e Campo Alegre entre os anos de 2012 e 2017.
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A pesquisa foi realizada em 2018 por Antônio Álvaro Chagas, voluntário do CVV (Centro de Valorização à Vida) e acadêmico de Psicologia da UnC Rio Negrinho e Fernanda Cristina Neidert Batista, professora de Psicologia da UnC Rio Negrinho.
ESTUDO COMPLETO SERÁ DIVULGADO NACIONALMENTE
Conforme o estudo, que terá seus dados completos divulgados em uma revista científica nacional, as três cidades do Planalto Norte registraram em cinco anos, uma média de suicídios maior do que a nacional, registrada pelo Ministério da Saúde.
“A média no Brasil, apontada pelo MS é de 5,7 suicídios a cada 100 mil habitantes. E proporcionalmente, entre 2012 e 2017, em Rio Negrinho houve 9,49 suicídios; em São Bento do Sul foram 6,42 e em Campo Alegre, 6,67”, destacou Antônio, com quem a reportagem do Nossas Notícias conversou pessoalmente na tarde de sábado (08), na sede do CVV em Rio Negrinho.
HOMENS E MULHERES
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Chagas contou que o trabalho realizado por ele e pela professora Fernanda aponta também que os homens que se suicidaram usaram métodos mais efetivos, como o tiro e o enforcamento. Segundo os dados que colheram, ao contrário das mulheres, eles são mais diretos e fazem menos tentativas de suicídio.
“As mulheres fazem muitas tentativas, em sua maioria pela intoxicação de medicamentos”.
MÉTODOS PREDOMINANTES NA REGIÃO
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Falando em métodos, o mais utilizado em Rio Negrinho e São Bento foi o enforcamento enquanto em Campo Alegre foi o envenenamento.
Chagas e Fernanda fizeram várias planilhas detalhadas que apontam fatores muito importantes sobre as ocorrências de suicido e neste sentido, o estudo surpreende pois Rio Negrinho registra outro dado alarmante com relação ao fenômeno.
“Em 2017 houve em Rio Negrinho, 4 suicídios em 28 dias. Isso foi entre 28 de outubro e 26 de novembro, é um número altíssimo”.
FALAR PARA PREVINIR
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Para os pesquisadores, esse fato comprova mais uma vez que um suicídio acaba sendo gatilho para outras pessoas, desencadeando uma série de tragédias em rede. E é nesta hora que fica mais evidente a necessidade de prevenção.
“Por isso que precisa se pensar cada vez mais a prevenção. Pois cada suicídio evitado, na verdade evita a concretização de outros, a gente ‘fura’ essa rede”, evidenciaram.
SOCIEDADE PRECISA ENTENDER
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Questionado sobre se é positivo o fato de o suicídio estar sendo trazido a tona com frequência em séries,músicas, filmes, livros e até mais frequentemente noticiado pela mídia de forma geral , Chagas frisou que a sociedade precisa ter a consciência de que o fenômeno existe.
“Todos têm que saber isso está acontecendo e de que este risco existe. Mas é preciso entender também que existem formas adequadas de falar sobre o suicídio, formas que vem a evitar a incidência desse tipo de ocorrência”, explicou.
Uma delas, é a compreensão da profundidade do tema.
“As pessoas precisam parar de tratar o suicídio e a depressão – que na maioria das vezes é o que leva ao suicídio – como uma ‘frescura’ , como uma banalidade, como uma falta disso ou daquilo”.
MANIFESTAÇÕES DE QUEM TEM PENSAMENTOS SUICIDAS MUITAS VEZES NÃO RECEBEM A ATENÇÃO NECESSÁRIA DE FAMILIARES E AMIGOS
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Os pesquisadores enfatizaram ainda que dados de outros estudos e pesquisas no mundo comprovam que todos os que estão próximos de uma pessoa com pensamento suicida sabem disso, mas na maioria das vezes preferem ignorar o fato.
“Oito em cada dez suicidas manifestam claramente sua intenção. Mas infelizmente, na maioria das vezes, não são levados a sério”.
“DEPOIS QUE TENTAM O SUICÍDIO, FICA PIOR MUITAS VEZES”
O mesmo se repete depois que essas pessoas tentam o suicídio mas não atingem seu objetivo.
“Quando uma pessoa que tenta o suicídio não recebe nem a atenção nem o tratamento que precisa, a situação dela acaba ficando pior, o que faz com que ela faça outras tentativas já que não resolveu a questão que a motivou àquele ato”.
PENSAMENTO SUICIDA É UMA DOENÇA
Chagas reforçou que o pensamento suicida é entendido como uma doença, uma vez que conforme ele, desde os primórdios da História, o maior instinto do ser humano sempre foi lutar para sobreviver,mesmo nas piores situações.
“Então, quando o ser humano começa a pensar na morte como solução, ele está saindo do seu esforço natural. E isso precisa ser tratado; seja com psiquiatra, em casos mais severos ou com psicólogos, em casos clínicos”.
DIFICULDADES NA OBTENÇÃO DE DADOS
Para a conclusão do trabalho, Chagas relatou que ele e Fernanda enfrentaram várias dificuldades burocráticas e junto à alguns órgãos de atendimento.
“Por questões burocráticas acabamos não conseguindo dados junto ao IGP (Instituto Geral de Perícias). Com eles poderíamos confirmar se as pessoas que cometeram suicídios na região ingeriram algum tipo de bebida alcoólica ou outras substâncias antes de cometer o ato. Também tivemos muita dificuldade de obter dados relativos às tentativas de suicídio com os bombeiros. Para isso precisavámos ter acesso a registros de atendimentos de intoxicações, por exemplo. Nossa maior base de dados foram a Polícia Militar e a Polícia Civil, que nos atenderam prontamente”.
EXPECTATIVA DE QUE ESTUDO POSSA SER APRIMORADO
Antônio disse que ele e Fernanda entendem que o estudo, depois de ser publicado nacionalmente na íntegra, pode se tornar mais abrangente, uma vez que a partir dele podem ser indexados outros dados e informações, gerando um “mapa”, que deverá ser utilizado para nortear ações de prevenção ao suicídio na região.
SUGESTÃO DE AÇÃO A SER IMPLANTADA NOS MUNICÍPIOS
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Porém, para que haja uma atenção efetiva nos municípios da região Antônio falou que pode ser estudada a implantação de uma Rede de Prevenção, com a vantagem de para isso não ser necessário um investimento financeiro.
“Já ouvi falar de cidades que tem um trabalho em rede, envolvendo Bombeiros, SAMU, Polícia Militar, Polícia Civil, Secretarias de Saúde, Educação e Assistência Social. Esses órgãos, juntos, fazem um trabalho de formação de base de dados integrados, mapeando suicídios e tentativas, que mostram como a prevenção pode ser feita da melhor forma, visando resultados mesmo”.
Antônio finalizou informando que já existe uma lei que preconiza um trabalho neste sentido.
“É a lei número 13. 819, sancionada em 26 de abril deste ano e que institui a Política Nacional de Prevenção ao Suicídio, a ser implementada pela União, estado e Municípios”.
PARA LEMBRAR SEMPRE
Quem, porventura , se encontra em situação de desespero, tristeza, estresse, se sente abalado (a) por situações vividas no passado ou presente e quer conversar com alguém sem precisar se identificar pode entrar em contato com os voluntários do CVV ligando gratuitamente para o número 188.
O CVV é uma organização mundial sem fins lucrativos e possui diversas unidades no Brasil, incluindo Rio Negrinho. Seus voluntários atendem ligações de pessoas de todo o país.
Quem mora em Rio Negrinho,por exemplo, não precisa se preocupar em ligar e ser identificado (a), pois a ligação não será obrigatoriamente atendida por pessoas da cidade. Isso porque o 188 é direcionado a centrais de todo o país, então as chamadas podem cair em qualquer outro município.
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