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Rio Negrinho: “não corri apenas uma ultramaratona de 23 horas, foi um momento de conexão com o divino”, conta Cleverson Vellasques

RIO NEGRINHO. Ele é advogado, atleta e tem uma longa trajetória de história com a comunidade, tendo já ocupado diversas funções de liderança. Amante dos desafios, Cleverson Vellasques resolveu viver uma nova aventura. 

Acompanhando da esposa Juliana, ele foi um dos inúmeros participantes de uma ultramaratona, onde não só superou seus limites físicos – incluindo um destroncamento no dedo do pé. Cleverson conquistou uma surpreendente quinta colocação e mais do que isso: conta que viveu uma experiência espiritual. 

Após a chegada das fotos oficiais do evento, ele concedeu uma entrevista inspiradora à nossa reportagem, compartilhando detalhes da sua participação e muitos insights que nos fazem refletir. Confira! 

Nossas Notícias – Que ultramaratona exatamente você participou? 

Cleverson Vellasques – Participei da Ultra Maratona Cassino Ultra Race, um trajeto de 135 km, que aconteceu na deslumbrante Praia do Cassino, na cidade de Rio Grande ( inclusive sua cidade natal, Katia ), no Rio Grande do Sul.

Foi uma jornada que se estendeu ao longo de 23 horas, mergulhando profundamente na beleza natural e desafios que esta paisagem única oferece. Esse momento se deu no dia 23 de março.

Nossas Notícias – Como foi esse percurso? 

Cleverson Vellasques – Foi um trajeto que proporcionou uma experiência imersiva na vastidão e na beleza selvagem do mundo antigo, onde encontra-se o cenário tal qual quando foi criado pelo arquiteto do Universo.

Nossas Notícias – Por que decidiu ir correr tão longe? 

Cleverson Vellasques – Fui atraído não só pelo desafio físico, mas também pela oportunidade de explorar e me conectar com a natureza de uma maneira muito profunda. A chance de correr em um ambiente tão único e espetacular, com paisagens tão significativas, foi simplesmente irresistível. 

Nossas Notícias – O que significou essa prova para você? 

Cleverson Vellasques – A Ultra Maratona Cassino Ultra Race foi muito mais do que uma prova de resistência física; foi uma peregrinação espiritual, um mergulho profundo nos recessos mais sagrados da alma humana. Em cada passo ao longo daqueles 135 km, não estava apenas movendo meu corpo através da areia, mas também navegando por camadas de percepção e consciência, explorando as fronteiras onde o físico encontra o metafísico.

Nossas Notícias – Qual foi o seu resultado (em quanto tempo fez e a classificação)?

Cleverson Vellasques – Completei a ultramaratona em 23 horas, alcançando o 5º lugar, um feito notável especialmente considerando um incidente desafiador ao longo do percurso. Durante a corrida, ao saltar um barranco próximo ao local onde um riacho se encontrava com o mar – uma característica comum na Praia do Cassino, com seus numerosos córregos que atravessam a orla – sofri uma violenta lesão no pé esquerdo. Esse obstáculo poderia ter sido um ponto de virada, mas, ao invés disso, transformou-se em uma fonte de força interior, impulsionando-me a continuar e superar as adversidades. 

A chegada ao fim não foi marcada apenas pela sensação de conquista, mas por uma emoção muito mais profunda e transcendental. 

Ao ser questionado sobre o que senti ao receber o prêmio entre os cinco primeiros, percebi que a verdadeira essência daquele momento ultrapassava qualquer sensação convencional de vitória ou orgulho. 

Na linha de chegada, o que predominava era um sentimento de profunda gratidão, um reconhecimento mútuo entre todos os corredores, refletido em nossos olhares. Não estávamos ali meramente como competidores, mas como irmãos e irmãs unidos por uma experiência compartilhada, de amor, fé e uma paz extraordinária. Foi um momento quase sacro, comparável à elevação espiritual encontrada na oração. 

Mas ao invés de palavras, era um sentimento comunicado silenciosamente, através de nossos olhares – uma expressão pura do pertencimento ao universo e do reconhecimento do divino que reside em cada um de nós. 

 Essa jornada não foi apenas uma prova da capacidade física, mas uma celebração do espírito humano e da nossa conexão intrínseca com o mundo ao nosso redor. A verdadeira recompensa foi essa profunda sensação de união e gratidão, um tesouro que carrego comigo e que vai muito além da linha de chegada.

Nossas Notícias – Qual foi o momento mais desafiador da corrida? 

Cleverson Vellasques – Foi, sem dúvida, quando destronquei meu dedo. A dor física era intensa, mas a determinação de continuar e completar a corrida manteve-me focado e motivado. 

Estive cara a cara com Deus no Aeroporto do Universo e segui de mãos dadas com o altíssimo, não seria um dedo que me faria desistir, pois o Senhor foi meu consolo, foi minha cura física e mental. 

Neste estado de profunda conexão, experimentei o que muitos descreveriam como momentos de ‘iluminação’, onde insights espirituais fluíam com uma clareza cristalina. Compreendi que cada um de nós é uma expressão única do universo, um microcosmo do macrocosmo, entrelaçado em uma benção divina de vida. 

A dor e o desafio físico da corrida se transformaram em mecanismos para a transcendência. Em meio à adversidade, encontrei as vozes angelicais daqueles que me querem bem e uma força interior inabalável, uma centelha divina que me guiou através dos momentos mais sombrios. Jornadas como estas, são testemunhas do poder do espírito humano de se superar, de se elevar acima do físico e tocar o sublime.

Nossas Notícias – Teve algum momento que você teve vontade de desistir? 

Cleverson Vellasques – Não. Eu estava com Deus, e Ele é bom o tempo todo. Então não me senti só, apesar da solidão do percurso. 

Encontrei, pinguim, ema, tartarugas, cobras, cavalos, tainhas, botos, aves das mais diversas, oceano, dunas e o começo do Bioma dos Pampas. Eu não tinha motivo para desistir, sequer passou em minha mente essa possibilidade. 

Essa jornada não foi apenas uma prova da capacidade física, mas uma celebração do espírito humano e da nossa conexão intrínseca com o mundo ao nosso redor.

A verdadeira recompensa em não desistir, foi a profunda sensação de união e gratidão, um tesouro que carrego comigo muito além da linha de chegada. Inclusive confesso que continuo correndo. Minha alma não parou ainda.

Nossas Notícias – Qual o momento mais emocionante? 

Cleverson Vellasques – Foi sentir uma conexão incrível com a natureza e experimentar coisas que vão muito além do que podemos ver. No entanto, uma das maiores emoções veio ao testemunhar a determinação e a coragem do meu amigo de treinos, Luiz da Cruz. Vê-lo avançando bravamente, enfrentando a dor e conseguindo completar impressionantes 85 km, mesmo sendo impedido de terminar a corrida por conta de lesões musculares, foi verdadeiramente emocionante. 

Foi inspirador ver um jovem da nossa própria cidade superar seus medos e lutar com tanta convicção pelos seus sonhos. Sinto um imenso orgulho dele. Ele é uma ótima pessoa e está se desenvolvendo como atleta de uma maneira que me faz acreditar que se tornará um grande nome no mundo das ultramaratonas. Seu espírito e sua determinação certamente deixarão marcas por onde passar. Para mim, há uma sensação de responsabilidade nisso,  por isso me toca o sangue encarnado da luta e me emociono. 

Me sinto ligado à buscas de conquistas, assim como me sinto em relação a todas as pessoas que já observei a crescer, seja no boxe, correndo pelo Circuito das Araucárias, nadando nas represas, escrevendo poesias, ou ensinando jovens advogados promissores. Incluindo meus filhos, filhas, netos e netas, vejo um reflexo de todas essas jornadas no Luiz. Ele simboliza a essência de tudo o que é emocionante e valioso para mim – a busca pela paz, pelo amor e pela verdadeira essência de quem somos quando perseguimos algo com todo o nosso coração.

Nossas Notícias – Teve algum momento engraçado?

Cleverson Vellasques – Sim, houve momentos leves e divertidos, especialmente interagindo com os animais exóticos pelo caminho. A presença inesperada de pinguins, emas e tartarugas marinhas foi uma surpresa encantadora, que trouxe sorrisos mesmo nos momentos mais difíceis.

Nossas Notícias – Correr, assim como outros esportes, nunca é “só” um esporte. São atividades que nos obrigam a olhar para nós mesmos e aprender com isso. No seu caso, quais aprendizados teve com essa experiência? 

Cleverson – Aprendi a importância da resiliência, da fé e da conexão profunda com o ambiente ao meu redor. Cada passo era um lembrete de que estamos interligados com a natureza, uns com os outros e com o universo de maneiras que muitas vezes não percebemos. Essa prova é uma poderosa jornada de autoconhecimento e descoberta espiritual. 

Entendi que o verdadeiro propósito da nossa existência não é simplesmente passar por este mundo, mas mergulhar profundamente nele, abraçar cada momento de alegria e dor, e encontrar beleza e propósito na vida. 

Acredito que cada um de nós tem sua própria ‘ultramaratona’ espiritual a percorrer, uma jornada que nos desafia a ir além dos limites do que acreditamos ser possível, para descobrir a verdadeira magnitude de quem somos.

Nossas Notícias – Qual sua mensagem especial para os nossos seguidores? 

Cleverson Vellasques – A vida é a nossa maior ultramaratona. Cada desafio, cada alegria, cada dor, faz parte da trilha que nos molda e fortalece. 

Encorajo todos a abraçarem suas jornadas com coragem, paz e amor. Não importa a distância, cada passo é uma oportunidade para descobrir, crescer e se conectar. 

Corram em direção às suas paixões, seus sonhos e o inexplorado, pois é na jornada que encontramos nossa verdadeira essência e a beleza incomparável da vida. 

A todos que estão lendo, quero compartilhar uma mensagem de esperança e inspiração: dentro de você reside uma força imensurável, uma luz que brilha mesmo nas horas mais escuras. A jornada pode ser árdua, os caminhos incertos, mas é na travessia desses desertos que encontramos nossos oásis mais sagrados. 

Busque sua própria ultramaratona interior, pois é na coragem de enfrentar o desconhecido que descobrimos a conexão divina que compartilhamos com o universo.

Ame sua esposa/esposo, seus pais, irmãos/irmãs, filhos/filhas, netos/netas, amigos e até os inimigos, pois todos são parte do seu crescimento. 

Gratidão, Juliana minha senhora, por acreditar que tudo pode ser possível quando se tem fé. Obrigada, Katia pela oportunidade de levar essa mensagem ao Universo. 

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