RIO NEGRINHO. Quem lembra dos benzimentos e realizações de dona Maria Valentina em Rio Negrinho? Para os mais jovens, esse nome pode até não trazer recordações, mas para os mais adultos traz boas lembranças e até alento.
E tanto para quem conheceu dona Maria Valentina quanto para quem não a conheceu, uma boa pedida em breve irá chegar.
É o livro ” A história e os benzimentos de Maria Valentina”, escrito pela própria Valentina e finalizado por sua neta, Danielle Caroline da Silva Cantuária.
Ela, que é arquiteta, foi contemplada na última semana com um prêmio de R$ 15 mil da Fundação Catarinense de Cultura.
Para receber o valor Danielle se inscreveu no prêmio Culturas Populares e Diversidades, no eixo Produção e Difusão, do Edital Elisabete Anderle, lançado pela Fundação Catarinense de Cultura.
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APESAR DO PRÊMIO, NÃO FOI DANIELLE QUEM ESCREVEU A OBRA
Porém, engana-se quem pensa que o livro foi escrito por Danielle. Ela apenas finalizou a obra, juntamente com sua equipe de apoiadores, que são: Ritchie Cantuária, Dornelles Simões de Oliveira, Astrid Lindroth, Ciliane Raquel Wille Augustin e Valdemar Luiz Staffen.
A AUTORA É…
E você se pergunta: mas então, quem escreveu a obra? Pois bem, foi a própria Maria Valentina!
De acordo com Danielle, a história da obra começou quando dona Maria Valentina estava com pouco mais de 80 anos de idade e faltava pouco mais de um ano para a festa de ouro da Igreja de Santa Luzia em Rio do Salto, localidade no interior de Rio Negrinho, onde viveu.
“Como foi uma das fundadoras, sua filha Luzia (minha mãe) sugeriu que ela escrevesse um livro para contar a história de sua vida e da igreja. E assim ela o fez. Por mais de um ano ela preencheu um caderno universitário inteiro com toda a sua história… desde a infância, juventude, vida adulta até os últimos momentos de sua vida”.
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MARIA VALENTINA: UMA PESSOA MUITO ATIVA NA COMUNIDADE
Danielle contou que dona Maria Valentina foi uma pessoa muito ativa e conhecida na comunidade, pois era benzedeira e fazia parte da Pastoral da Saúde.
“Centenas de pessoas a visitaram em sua casa no Rio do Salto, em busca de seus benzimentos, orações e ensinamentos, pois ela cultivava em seu quintal muitas ervas e plantas medicinais, que curavam os mais diversos males. Benzimentos contra quebranto, contra susto ou contra cobreiro, eram alguns dos quais a Dona Maria praticava, com muita fé nesta importante tradição para as comunidades catarinenses”.
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UMA ÉPOCA EM QUE A VIDA ERA OUTRA
Em seu livro, Maria evidencia os costumes e tradições de diversas épocas e o modo de vida no interior, relatando que desde criança já era preciso trabalhar na lavoura e para ir à escola era preciso caminhar mais de 16 km por dia. Na juventude, conta que haviam os tradicionais “bailes”, em que os rapazes tiravam as moças para dançar.
” Para se ter uma nova vestimenta, era preciso ir até a “Vila” e comprar um metro de tecido e costurar. Para lavar as roupas, era preciso ir até o rio e atravessar carreiros em meio a floresta para chegar até lá. Não foram poucas as vezes em que Maria se deparou com um índio no meio da mata, ou com uma cobra e até mesmo com um leão-baio”, relatou Danielle com orgulho.
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A HISTÓRIA DE UM AMOR PROIBIDO
No livro também há o relato da história de amor de Maria e Francisco, que passou por alguns apuros, pois o pai autoritário de Maria nunca aceitou o namoro dela com Francisco.
“Por anos os dois namoraram escondidos, até que Francisco teve que ir servir ao Exército durante a Segunda Guerra Mundial, como guarda no Forte no Rio de Janeiro, e nesse período os dois se corresponderam por cartas que Maria escondia no bolso de um casaco dentro do armário. Um dia sua mãe encontrou as cartas e, como não sabia ler, entregou-as nas mãos do pai de Maria que descobriu o namoro e deu uma surra enorme em Maria, que chegou a quebrar alguns dentes dela”.
Ela relatou que depois disso Maria foi embora de casa, mas continuou enfrentando a perseguição de seu pai até que com 21 anos finalmente conseguiu casar-se com Francisco.
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MARIA E FRANCISCO: SUPERANDO OS PERCALÇOS DO CAMINHO
” Porém, as dificuldades não acabaram ali… com 4 anos de idade Osni, o primeiro filho de Maria e Francisco, sofreu um acidente de carroça e ficou cego. Anos depois Maria Valentina prometeu construir uma Igreja para Santa Luzia, padroeira dos olhos, na localidade de Rio do Salto, para que seu filho voltasse a enxergar e ver as belezas do mundo. Mesmo com muitas dificuldades, Maria e Francisco, com a ajuda de amigos e vizinhos, conseguiram concretizar essa promessa.
TUDO ISSO E MUITO MAIS, EM UMA HISTÓRIA REAL E COMOVENTE
Todos esses acontecimentos e muitos outros, foram narrados em seu livro; propiciando aos leitores a oportunidade de conhecerem a forma como nossos antepassados viviam, além de conhecerem a linda história de Maria Valentina.
No final do livro há a história da promessa da Gruta de Nossa Senhora de Lourdes em Rio do Salto e a transcrição dos benzimentos que Maria Valentina fazia.
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HÁ SETE ANOS, DANIELLE RECEBEU UMA MISSÃO DA AVÓ
Pouco antes de falecer, no ano de 2012, dona Maria Valentina minha chamou Danielle, lhe entregou o caderno universitário e lhe incumbiu da tarefa de publicar o seu livro.
“Eu não sabia como, mas prometi que publicaria o livro dela, sim. Já em 2012 comecei a passá-lo a limpo, mas depois parei para fazer outras atividades e nesse ano agora retomei o projeto e terminei de passá-lo todo para o computador”.
Uma semana depois, o edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura da Fundação Catarinense de Cultura foi lançado. Com o auxílio de outros artistas e pessoas ligadas à Cultura, Danielle montou uma equipe e inscreveu o livro no prêmio Culturas Populares e Diversidades, no eixo Produção e Difusão, do edital Elisabete Anderle.
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RESULTADO RECEBIDO COM EMOÇÃO E ORGULHO ACIMA DE TUDO
Nesse domingo (13), recebeu, com muita emoção e orgulho, a notícia de que o projeto foi classificado em primeiro lugar no Estado nessa modalidade em que concorreu.
” Os R$ 15 mil / serão utilizados totalmente para a publicação do livro. Ainda há alguns trâmites que devem ser cumpridos, como a entrega de documentos e assinatura do contrato com a Fundação Catarinense de Cultura. Somente após isto é que receberemos a verba e teremos o prazo de 6 meses para executar o projeto conforme indicamos na inscrição”.
As ações futuras envolvem a solicitação do código ISBN, elaboração da arte da capa, revisão ortográfica, editoração, impressão dos livros e a realização de eventos de divulgação.
LANÇAMENTO E DISTRIBUIÇÃO DO LIVRO
Segundo Danielle, a meta é a publicação de 500 livros para distribuição gratuita.
“10% deste total ficará com a Fundação Catarinense de Cultura e na inscrição mencionamos que vamos enviar o livro para as bibliotecas públicas dos municípios do Norte Catarinense”.
Os eventos de lançamento serão realizados no Café Boutique Cedro Rosa e no Casarão Zipperer em uma edição do Projeto Aflorar, com o apoio da Fundação Municipal de Cultura. As datas ainda não foram definidas.
FAMÍLIA
Os filhos de Dona Maria e Seu Francisco são: Osni Simões de Oliveira, Carmelita Simões de Oliveira (in memoriam), Laudelino Simões de Oliveira, Luiz Simões de Oliveira e Luzia de Fátima de Oliveira Silva.
AGRADECIMENTOS
“Só temos a agradecer a Deus, primeiramente, e aos parceiros, familiares e amigos que torceram por nós e nos ajudaram. Temos a certeza de que lá do céu a Dona Maria Valentina mexeu uns pauzinhos para conseguirmos essa verba”.
Dona Maria Valentina no dia em que pisou no mar pela primeira vez na vida, acompanhada da filha Luzia
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