Um dos grandes nomes do xadrez no país, Everaldo Matsuura esteve em Rio Negrinho neste fim de semana quando participou do Campeonato Catarinense 66° Absoluto e 34° Feminino, sendo um dos grandes destaques da competição e campeão absoluto representando o Xadrez de Timbó (SC). Leia mais sobre a competição na cidade clicando aqui. Ele conversou com a reportagem do Nossas Notícias, contando sobre sua trajetória no xadrez e deixando uma mensagem bem especial aos nossos seguidores. Confira!
Nossas Notícias – Aos 50 anos, você é uma das grandes referências do xadrez no Brasil. Por que começou a jogar xadrez e que idade tinha quando começou a praticar o esporte?
Everaldo – Meu pai era um amante do xadrez e me ensinou. Meus dois irmãos mais velhos também jogavam xadrez de competição e ambos foram campeões paranaenses. Então, foi no ambiente familiar que aprendi a jogar, já aos 5 anos de idade.
Nossas Notícias – O que é ser um Grande Mestre em xadrez exatamente?
Everaldo – Grande mestre é a graduação máxima da Federação Internacional de Xadrez. No Brasil temos atualmente 14.
Nossas Notícias – Como foi representar o Brasil nas Olimpíadas de Xadrez ? Em que ano foi e qual foi sua colocação final?
Everaldo – Foi uma felicidade enorme, mas também uma decepção pelo mau desempenho que tive nas duas vezes que participei. A primeira foi em 1998 na Rússia e a segunda em 2002 na Eslovênia.Nossa equipe ficou em 48° e 35° lugar, respectivamente.
Nossas Notícias – Qual foi o jogo mais difícil que você participou, que levou mais tempo para você vencer?
Everaldo – Difícil recordar a vitória mais longa em tempo. Mas a partida mais longa que joguei terminou empatada: foi em 1982 contra, o paranaense Jonel Iurk e levou um pouco mais de 7 horas. Vale lembrar que naquela época havia muito mais tempo para pensar e as partidas ,após 5 horas, eram interrompidas e continuadas no dia seguinte. Atualmente dificilmente uma partida oficial leva mais do que 4 horas.
Nossas Notícias – Como foi participar do evento aqui em Rio Negrinho?
Everaldo – Fiquei feliz de ter participado, pois desde o início da pandemia os torneios foram quase todos paralisados e para quem ama competir essa abstinência é “cruel”.
Nossas Notícias – É possível viver profissionalmente como enxadrista?
Everaldo – Na verdade, as condições gerais das competições em termos financeiros caíram bastante na última década no Brasil e atualmente quase todos os profissionais de xadrez desenvolvem atividades que envolvem aulas, conteúdo na internet (youtubers), organização de eventos e afins. Ou seja, piorou muito para quem gostaria de se dedicar integralmente as competições e , por outro lado melhorou para quem trabalha nesses outros ramos da atividade enxadrítica. Claro que esse fato reflete muito negativamente nos resultados dos nossos melhores enxadristas quando comparados a outros países cujas condições são mais propícias. Mesmo assim tivemos boas participações de brasileiros (que representam SC) na Copa do Mundo de Xadrez que ora se realiza na Geórgia : Krikor Mekhitarian, Alexandre Fier e Júlia Alboredo. Porém, parece mais alguns casos de superação pessoal do que boas condições para o desenvolvimento de alto rendimento que temos no Brasil.
Nossas Notícias – Qual a sua mensagem para quem quer competir?
Everaldo – Motivação é tudo! Sem ela é impossível manter-se nos trilhos do processo que levará ao aprimoramento do atleta. A questão é descobrir qual é o nosso combustível para manter essa chama sempre acesa. Então: faça uma jornada interior e descubra o que de fato te faz avançar!
Nossas Notícias – E quais as lições do xadrez na sua vida, de forma geral? Bom, eu acho que todo esporte nos ensina algo para a vida rsrs, é uma opinião pessoal, não sei se você concorda. Já pratiquei boxe e corrida e mudei bastante a maneira de me posicionar com relação a mim mesma e à vida.
Everaldo – Sim! Claro, o esporte em geral é uma grande escola! Especificamente o xadrez creio que me ensinou a sopesar e equilibrar fatores concretos ( onde é possível calcular as probabilidades) e fatores abstratos ( reconhecimento de padrões e intuição ), ou seja usar o “bom senso”.Aliada a esta última questão, o aumento da capacidade de realizar analogias entre os mais variados aspectos da vida (processo associativo) provavelmente está ligado, no meu caso, ao xadrez.