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O caso Carrefour e a periculosidade humana

Kelen Sbolli é adestradora profissional de cães. Proprietária da Vita Canis, atende em Curitiba PR Rio Negrinho e em várias outras cidades do Sul do Brasil. Escreve para o Nossas Notícias todos os domingos. Contatos com a colunista podem ser feitos pelo (41) 9.9972754 ou pelo e-mail: zsbolli@yahoo.com.br *************************************** Esta semana o Brasil foi surpreendido pela notícia da morte de uma cadelinha abandonada no Hipermercado Carrefour, em Osasco/SP. Mas não foi uma morte por atropelamento ou doença. Foi assassinato. E da maneira mais cruel possível. Testemunhas contam que um segurança, a mando da gerência da loja, tentou “se livrar” da cachorrinha que ali estava a alguns dias sendo até mesmo tratada por alguns funcionários e clientes. Inclusive, um dos funcionários iria adotá-la. Mas não houve tempo. Depois de tentar envenená-la sem sucesso, o segurança da loja arrastou a cachorra e a matou a pauladas de uma maneira incompreensível e cruel! Onda de indignação Uma onda de indignação tomou conta do país pelas redes sociais. Manifestações foram marcadas, bem como um boicote à rede de supermercados. Mas por trás destes protestos existe muito mais….na verdade,  as pessoas já estão fartas de impunidade, seja em relação a crimes contra humanos ou animais. Se nossa legislação criminal é falha, contra maus tratos a animais é praticamente omissa. Ao contrário do que acontece nos USA, por exemplo, no Brasil ninguém vai preso por matar um animal, no máximo, presta serviços à comunidade. Os cães tem sentimentos Ao longo deste ano escrevi várias vezes sobre os sentimentos dos animais, particularmente dos cães. Eles sentem tudo que sentimos, ou seja, fome, medo, ansiedade, tristeza, alegria, amor, dor, etc. São seres sencientes, porém, não conseguem se expressar da mesma maneira que nós. Eles não falam. Não podem contar quem os machucou, quem os torturou física ou psicologicamente. Eles não conseguem se defender da força do ser humano. Apenas cães de grande porte treinados para atacar saberiam se defender, mesmo assim, nada poderiam fazer contra uma arma de fogo. Escrevi também sobre maus tratos e que mesmo frágil, existe uma lei. Escrevi sobre posse responsável. Escrevi sobre o que ocorre com cães abandonados. Escrevi sobre como os cães podem dar sua vida por sua família humana. A minha preocupação com a vida dos cães, portanto, vai muito além de saber a importância de adestrá-lo. Nenhum cão pode ser feliz com pessoas infelizes ou desajustadas por perto. Os cães dependem de nós não só para alimentá-los, mas também para protegê-los! No mundo todo, as leis contra maus tratos aos animais estão cada vez mais severas. No Brasil, a lei é fraca. Ela vai na esteira da legislação criminal, ou seja, frágil, cheio de benesses e penas brandas. Na verdade, as pessoas não agüentam mais tanta insensatez. Não agüentam mais impunidade, seja para crimes contra pessoas ou contra animais. Em outrubro de 2018 A Comissão de Bem-estar Animal, do Conselho Regional de Medicina Veterinária do Estado de São Paulo (CRMV-SP) elaborou e colocou à disposição dos profissionais o “Guia Prático para Avaliação Inicial de Maus Tratos a Cães e Gatos”. O documento tem como objetivo colaborar com agentes públicos e profissionais designados para o atendimento de denúncias de maus-tratos a animais, por meio de um protocolo básico que possibilite o levantamento da situação e dê o embasamento para encaminhamento aos órgãos competentes. Manual Este Manual aponta um estudo em que mostra a correlação de violência doméstica e maus tratos contra animais. Neste estudo, 71% dos animais pertencentes a mulheres que haviam sofrido violência doméstica tinham sido submetidos a maus tratos naquele domicílio (PADILHA M.J.S.Crueldade com Animais X Violência Doméstica Contra Mulheres: uma conexão real. Recife: Fundação Antônio dos Santos Abranches, 2011, pp 61). Mais um estudo Em outro estudo, realizado com dados da Polícia Militar do Estado de São Paulo, demonstrou-se que um terço das pessoas autuadas por maus tratos aos animais tem também outros registros criminais, sendo que 50% destes registros são de crimes de violência contra as pessoas (NASSARO, M.; ROBIS F. Maus-tratos aos Animais e Violência contra as Pessoas: a aplicação da Teoria do Link nas ocorrências da Polićia Militar Paulista. São Paulo: Edição do Autor, 2013). Violência contra animais e psicopatia Pesquisas feitas em todo o mundo, particularmente nos USA, mostram uma correlação intrínseca entre violência contra animais e psicopatias. Um estudo realizado pela Universidade de Boston e pelo Institute Massachussets SPCA mostrou que pessoas que abusavam de animais na infância são 5 vezes mais propensas a cometerem crimes violentos contra seres humanos. Sabe-se também que a tortura e morte de animais é uma das características presentes em crianças com psicopatia.  É urgente Considerando esta conexão entre a violência humana e maus tratos contra animais, fica claro a urgência do poder público em verificar minuciosamente cada denúncia de maus tratos a animais, pois atrás desta violência outras se seguirão. Em 2011 Em 2011, em Goiás, uma enfermeira chamada Camilla Corrêa Alves de Moura Araújo dos Santos, matou a pancadas seu cachorro da raça yorkshire. Sua pena foi de R$3000,00 mesmo ficando evidente a falta de estabilidade mental de Camila, como demonstrado pela sua própria defesa, onde a ré afirmou “não ter feito nada fora do normal”. Mesmo assim, seu registro de enfermeira não foi cassado pois segundo o Conselho de Enfermagem, “esta situação não afetava sua atuação profissional”, como se isso não influenciasse uma carreira que é caracterizada exatamente por pessoas que cuidam carinhosamente de doentes. Para compensar tamanha injustiça, a população de Formosa/GO, parou de marcar consultas com seu marido que é médico. Manifestações As manifestações de boicote a rede Carrefour segue o mesmo caminho, mas só isso não basta. Atos violentos contra animais devem ser punidos exemplarmente e os culpados devem ser monitorados de perto para que as pessoas que vivem no seu meio familiar não sejam também vítimas em potencial de sua desordem mental. Devemos exigir uma legislação mais coerente com a gravidade do ato, alongando o olhar para o que uma violência contra um animal pode mostrar em relação à periculosidade do indivíduo. Além disso, a educação das nossas crianças deve levar em conta o respeito à vida no seu aspecto mais amplo, devendo ser abordado multidisciplinarmente. Quantas agressões a animais ainda terão que ocorrer até que o povo e seus representantes passem a olhar atentamente para as conseqüências num espectro maior? Este assasssinato não pode ser em vão O assassinato da cadelinha Manchinha, como era carinhosamente chamada, não pode ser em vão. Que ela seja um símbolo, o início de uma transformação de mentalidade. O povo brasileiro já mostrou que consegue transformar o país quando quer. Que este seja o estopim; o início do fim da impunidade para a violência contra os animais. Denuncie. Exija uma punição legal. Talvez isso faça, futuramente, a diferença entre a vida e a morte de alguém.]]>

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