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Rio-negrinhense conta como é morar em Tóquio, no Japão

RIO NEGRINHO. Sair de casa para morar sem nenhum familiar ou amigo em outra cidade ou estado, é por si só um desafio para qualquer pessoa. Agora imagine sair de Rio Negrinho para morar sozinha, do outro lado do mundo, mais precisamente em Tóquio, a capital do Japão!

Foi esse o desafio enfrentado e superado pela rio-negrinhense Denise Destri Bacic, que desde outubro de 2018 mora na “terra do sol nascente”.

E o que ela faz lá? Bom, trabalha realizando um sonho de criança! Vamos explicar: Denise é formada em Design com foco em Animação pela UFSC e trabalha em um estúdio de animação, através do qual já viu nas telinhas e nas telonas desenhos seus ilustrando episódios de Digimon, Dragon Ball e outros desenhos que cresceu assistindo como telespectadora. Legal, né? Então se você busca realizar um sonho, seja ele qual for, se liga na entrevista abaixo, que fizemos quando ela veio visitar a família em Rio Negrinho neste 2022 e inspire-se!

Nossas Notícias – Como você aprendeu a falar japonês?

Denise – Foi quando estava entrando no Ensino Médio, comecei a estudar por conta porque não tinha curso de japonês aqui em Rio Negrinho. Aprendi a ler e escrever lendo mangá, foi o máximo que eu consegui sozinha porque a gramática é mais difícil. Mas daí fui estudar Design com Foco em Animação na UFSC em Florianópolis. E foi na capital de SC que encontrei um curso de japonês ministrado na Associação Nipo Catarinense. Estudei com eles durante cerca de três anos.

Nossas Notícias – E como foi que você decidiu ir morar no Japão mesmo?

Denise – Me formei na UFSC, trabalhei um pouco em Blumenau e cheguei a conclusão de que se eu quisesse ir morar no Japão, tinha que ser naquele momento, pois sempre foi o meu sonho morar neste país.

Nossas Notícias – E como foi que você chegou lá?

Denise – Cheguei em outubro de 2018. Fui como estudante de japonês porque para conseguir visto para trabalhar é mais difícil. Era para eu ter chego em setembro mas teve um tufão lá, então precisei esperar. Cheguei dia 1° de outubro e estava um baita de um sol! Mas para chegar lá fiz uma viagem bem longa, inclusive aproveitei para fazer uma parada na Romênia, onde mora minha prima.

Nossas Notícias – E como você conseguiu o visto para trabalhar e permanecer no país?

Denise – Fiz o teste na escola para ver em qual turma eu ia ficar. No teste escrito em si eu fui muito mal, mas conversei com a professora em japonês e ela disse que percebeu que eu conseguia entender e falar, então me colocaram num nível intermediário. Fiz seis meses de curso de japonês lá e enquanto estudava, fui procurando emprego. Deu bem certinho: quando deu o prazo do curso, consegui o emprego nesse estúdio de animação que eu trabalho até agora.

Nossas Notícias – Esse estúdio produz desenhos próprios, produz para canais de TV, cinema, internet…?

Denise – O nome do estúdio é Jumonji, que é uma pose que se faz no arco e flecha, que exige uma postura perfeitamente alinhada do corpo. A empresa produz animes de televisão, cinema, para canais de TV. Recentemente produzimos um episódio que está na Netflix, em japonês é Komi-san wa Komyushou. Meus desenhos estão no episódio 11, onde participei de por volta de 30 cenas, porque fazer desenho animado exige um trabalho bem minucioso. Meu nome inclusive está nos créditos, mas em japonês.

Nossas Notícias – Que legal! E de que produções mais você participou?

Denise – Já desenhei para o filme de Eureka Seven, episódios de Dragon Ball Heroes, e participei um pouco de One Piece, que eu acompanhava desde que era criança. Não é sempre que fazemos episódios inteiros, a gente vai pegando de fora, como terceirizados. Já participei de vários projetos que não eram nossos, apenas trabalhos para um estúdio principal. Já fiz desenhos de episódios de Digimon, que eu também assistia quando eu era criança e também tinha dois personagens que eu conhecia. É muito legal fazer cenas dos desenhos que eu assistia! Até porque quando eu era criança, queria ser artista plástica por causa da minha tia Kátia (Schroeder Bacic, casada com Mario Sérgio Bacic), ela pintava telas e eu achava tudo muito legal. E hoje eu desenho para as telas eletrônicas rsrs

Nossas Notícias – E nesse estúdio tem mais brasileiros (as)?

Denise – Nesse estúdio sou a única brasileira. Tem um norueguês, um russo e um chinês, além dos japoneses.

Nossas Notícias – E vocês se comunicam só em japonês? Ou em inglês também?

Denise – Nos comunicamos em japonês. Com o norueguês às vezes falamos em inglês, mas só quando não lembramos uma palavra em japonês.

Nossas Notícias – Como é Tóquio e como é se adaptar em um país de cultura tão diferente da nossa?

Denise – Tóquio é uma província que reúne 23 cidades. Eu já sabia bastante coisas sobre a cultura japonesa porque sempre pesquisei, então não tive muitas surpresas. Mas eles tem muito essa questão de disciplina, também trabalham muito mesmo, essa cultura de importância ao trabalho é muito forte, existem muitas pessoas que são workaholics e a gente tem que se adaptar. Além disso, tem a questão do respeito, principalmente aos mais velhos. Na questão da pandemia, antes de ela acontecer, eles já usavam máscaras, então pra eles foi normal essa medida.

Nossas Notícias – E o que você mais gosta no Japão?

Denise – Gosto muito do transporte público, que é muito fácil de usar, você vai para qualquer lugar. Também gosto da segurança, você pode andar na rua em qualquer horário, usando seu celular ou qualquer outro equipamento, com a certeza que não vai ser roubada (o) ou assaltada (o). E principalmente, o quão fácil é encontrar produtos de animes como bonequinhos colecionáveis hehe

Nossas Notícias – E você encontrou alguma dificuldade em se adaptar lá?

Denise – Minha maior dificuldade foi com os terremotos, lá é mais comum do que eu achava. Teve uma semana que teve quase todo dia. Não são terremotos grandes, dão uma ‘balançadinha’, mas como não estou acostumada, qualquer balanço me dá um frio na barriga. E claro, o idioma continua sendo um desafio.

Nossas Notícias – E você já enfrentou algum terremoto forte mesmo?

Denise – Peguei um mas não foi assim grande, foi o suficiente para derrubar o meu saleiro, ver as coisas balançando dentro de casa… É uma sensação muito estranha.

Nossas Notícias – E há algum tipo de preparação ou apoio para os cidadãos lá?

Denise – Sim, eles são muito bem preparados para de desastres naturais. Todos, inclusive estrangeiros, recebem muitas recomendações do que fazer se houver um terremoto muito grande. Eles tem já mapeados os locais para onde podemos ir, todo mundo tem uma mochilinha de emergência com água, ítens de primeiros socorros, vem um arroz que é só colocar água e fica pronto (não precisa cozinhar), lanterna, um radinho de bateria para ouvirmos notícias, caso acabe a bateria do celular, uma capa térmica, um apito…

Nossas Notícias – E há risco de algum outro desastre ou é “só” terremoto mesmo?

Denise – Sim, tem tufões também. Passei por um tufão bem grande lá. Eles recomendam que quando houver uma previsão desse tipo de situação, a gente encha a banheira com água, para caso acabe a água termos uma reserva para descarga, banho…, Eles são muito bem preparados, perto de onde eu moro tem um abrigo de emergência, que fica em uma universidade.

Nossas Notícias – E o que os japoneses comem? Só algas e outros frutos do mar, como muitos de nós pensamos?

Denise – Eles comem muito arroz, frutos do mar, legumes, frango e carne de porco. Carne vermelha é cara, pois é tudo importado e vem em cortes bem fininhos. Não compro muita carne vermelha lá mas aproveito para comer churrasco e pastel quando venho para o Brasil hehe Lá também não tem muita fritura, as lojas de conveniência também são muito boas.

Nossas Notícias – Falando nisso, como é o lugar onde você mora em Tóquio ?

Denise – É padrão japonês, bem pequeno rsrs. Tem um corredor na entrada, daí no corredor já fica a cozinha. Do outro lado tem o banheiro e depois vem o quarto, que é bem pequeno também.

Nossas Notícias – E lá então o pessoal não faz festa e recebe os amigos em casa, como é aqui?

Denise – Não, não. Lá o pessoal se reúne mais nos bares e restaurantes, isso claro, antes da pandemia.

Nossas Notícias – E você sofreu algum preconceito por ser brasileira?

Denise – De preconceito mesmo, nada muito específico por ser brasileira, mas sim por ser estrangeira. Quando cheguei, morava naquelas casas compartilhadas. Daí fui procurar apartamento, peguei alguns para visitar e a moça da imobiliária ligava para o dono e perguntava se eles permitiam que uma estrangeira olhasse. Houve três locatários que não quiseram, não foi por eu ser brasileira, mas sim por ser estrangeira. Tem muito essa separação deles com os estrangeiros. Por exemplo, eu falo japonês mas muitos quando me vêem já vem falar em inglês, outros ficam nervosos porque não falam inglês e no final se surpreendem quando falo japonês com eles rsrsrs.

Nossas Notícias – Então lá também não tem mesmo uma miscigenação assim como aqui no Brasil?

Denise – Em Tóquio até que tem bastante brasileiros, no Japão em si também. Mas independente do país, tem poucos casais inter-raciais mesmo. A maioria é muito tradicional com relação a casamento. Mesmo os jovens, em grande parte, ainda seguem pensando que quando faz 30 anos tem que casar, esse é um valor para eles. Em Tóquio há vários estrangeiros, mas em cidades do interior é um pouco mais difícil.

Nossas Notícias – E você pretende ficar até quando no Japão?

Denise – Por enquanto vou ficando lá, gosto bastante. Está valendo a pena principalmente na questão de trabalho, pois estou aprendendo muito. A única questão é que a indústria não é muito valorizada, então em termos financeiros estou sempre no limite. Isso que estou num estúdio que paga salário, se vivesse como freelancer, como acontece com muitos, não ia conseguir dar conta de pagar todas as despesas. Mas penso também que às vezes pode valer a pena morar no Brasil e trabalhar para estúdios estrangeiros, pois o pagamento nestes casos vem em moeda estrangeira. Mas é algo em que vou pensar ainda.

Nossas Notícias – Gostaria que você deixasse algumas dicas para quem quer morar fora do Brasil.

Denise – Então, ter inglês fluente é muito importante, mesmo que você vá morar no Japão. Na área de animação a graduação não é tão importante porque se valoriza mais o portfólio do que o diploma, mas o diploma ajuda muito para conseguir visto, principalmente porque as empresa procuram contratar profissionais que não encontram em seus países. Para quem for trabalhar com desenho, é imprescindível dominar bem os fundamentos de anatomia, gestual, perspectiva, … E para quem quer vir morar no Japão, falar japonês também é importante. Para quem deseja trabalhar com anime no Japão, indico fazer um Twitter , pois eles usam muito lá. Na área de arte no geral, tanto profissionais quanto empresas usam muito também o Instagram. Se alguém quiser fazer mais perguntas sobre a área, fico a disposição no meu Instagram @deh.db ou no meu Twitter @deh_db

Nossas Notícias – Também acompanhou nossa entrevista o pai de Denise, o empresário Luiz Cláudio Bacic (a mãe da Denise é a Alexandra). E, claro, reservei uma pergunta para ele rsrs. Como foi para vocês lidarem com o desejo da Denise morar tão longe, do outro lado do mundo?

Luiz Claúdio – Não estranhamos porque desde pequena a Denise se interessou pelo Japão e sua cultura, tanto que a gente incentivou muito, compramos livros em japonês para ela, até chegamos a procurar um curso de japonês, mas não encontramos aqui na região. Então, quando chegou a hora de ela prestar vestibular, a gente disse que se passasse na UFSC, íamos todos juntos em família conhecer o Japão. E realmente fomos. Ficamos dez dias lá, isso foi em 2011. Daí ela viu que era realmente o que ela queria e foi viver o seu sonho.

Denise voltou para o Japão no dia 5 de janeiro. A última vez que tinha vindo para o Brasil havia sido há quase dois anos e por causa da pandemia, não conseguiu visitar a família e amigos de Rio Negrinho e Santa Catarina antes.

A viagem, contou, é de mais de 30 horas. Muitas realizações, Denise! E continue nos inspirando muito mais!

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