Alguns profissionais se formam e transformam suas carreiras. Outros se formam e “devolvem” à sociedade aquilo que aprenderam. O ex-aluno da Escola Técnica Tupy, Guilherme Thiago de Souza é um deles. Egresso do curso Técnico em Automação Industrial, o engenheiro da Computação e hoje doutorando do Departamento de Pneumologia da Faculdade de Medicina de São Paulo (USP) está fazendo história no país.
Proprietário da empresa paulista Roboris, o joinvilense foi o responsável pelo desenvolvimento da BRIC – Bolha de Respiração Individual Controlada, desde o desenho, montagem e testes.
O capacete para ventilação não invasiva criado para auxiliar na oxigenação de pacientes graves com Covid-19 é o único dispositivo com este tipo de tecnologia fabricado no Brasil.
Graças ao trabalho da equipe liderada pelo engenheiro, hospitais e empresas de táxi aéreo responsáveis pelo transporte de pacientes vítimas do coronavírus já estão fazendo uso da BRIC. Até o momento, mais de 3 mil unidades foram distribuídas em 15 estados brasileiros, inclusive Santa Catarina.
Aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o dispositivo melhora a ventilação e oxigenação dos doentes, evitando a intubação em muitos casos. Além disso, o capacete tem um sistema de vedação, o que dá mais segurança aos profissionais de saúde em contato com o paciente.
“Tudo começou com a vontade de dar à sociedade uma devolutiva daquilo que sei fazer, daquilo que nós, engenheiros, aprendemos. No início da pandemia, em 2020, levei essa provocação ao Cluster AeroEspacial em São José dos Campos, onde há uma rede de colaboração e sinergia entre empresas voltadas à inovação e tecnologia”, conta Guilherme.
A ideia inicial previa a criação de ventiladores mecânicos ou máquinas ECMO, mas não demorou para que o ex-aluno da Escola Técnica Tupy resolvesse investir em outra frente, com resultados mais rápidos e eficientes.
“Durante o processo de estudo, encontramos a teoria da ventilação não invasiva, e nela o conceito de helmet, que existe desde a década de 1980, mas que infelizmente não estava disponível no Brasil. Foi então que começamos o processo criativo, construtivo e operacional da BRIC. O primeiro protótipo ficou pronto em 40 dias.”
O dispositivo vem sendo comercializado pela Life Tech Engenharia, empresa criada especialmente para este projeto. Algumas unidades da Bolha de Respiração Individual Controlada já foram enviadas para o Chile e há conversas com outros países da América Latina, mas o engenheiro garante que o objetivo neste momento é atender a demanda nacional.
De Joinville para o mundo
Quando ingressou na Escola Técnica Tupy, em 2004, Guilherme Thiago de Souza já tinha o futuro traçado. Antes do técnico em Automação Industrial, cursou Mecânica Industrial e buscava a área de projetos. Sempre teve gosto por invenções. À época, foi destaque na Feciett (Feira de Ciências da ETT) com o desenvolvimento do protótipo de uma turbina de avião que seria testada em um kart.
Ainda jovem percebeu a importância dos cursos hands-on (mão na massa) para a condução da carreira.
“Esse foi um dos grandes aprendizados que a Escola Técnica Tupy deixou: a habilidade de trazer teorias e abstrações do mundo das ideias para a realidade”, afirma.
A generosidade está também nos conselhos que o ex-aluno da ETT dá aos filhos de amigos e familiares.
“Sempre digo para começar a carreira por um curso técnico, pois ele tem o papel fundamental de colocar a pessoa em contato direto com a profissão que está escolhendo. Além da experiência e proximidade com a área, os cursos técnicos são fundamentais para que os futuros profissionais possam aplicar na prática as teorias aprendidas”, comenta.
Carreira de sucesso
Na avaliação do engenheiro da Computação, o curso técnico também foi importante durante a graduação.
“As bases práticas já estavam consolidadas e me ajudaram na aplicação real dos conhecimentos. Ao longo da minha jornada percebi que outros profissionais com carreira de destaque trilharam esse mesmo caminho: primeiro os cursos técnicos, depois engenharia ou outra graduação”, conta Guilherme.
Ao concluir o curso na ETT, ele trabalhou na área de projetos em uma empresa de automação em Joinville.
Dois anos depois, foi convidado para atuar na assistência técnica em uma companhia líder mundial em robôs industriais, a japonesa FANUC. Foi então que começou sua trajetória em São Paulo, tornando-se gerente de serviços da América Latina e, mais tarde, engenheiro de suporte de projetos.
Após 5 anos na empresa, Guilherme decidiu alçar voo solo e abriu uma empresa de engenharia com dois amigos chilenos. Assim nasceu a Roboris, em São Paulo, hoje consolidada no meio aeroespacial em parceria com a Embraer e outras empresas dos Estados Unidos, Japão e Inglaterra.
Atualmente, a companhia faz parte do Cluster Aeroespacial, um conglomerado de empresas estratégicas para o setor e integra a ABINDE (Associação das Indústrias de Materiais de Defesa).
Orgulho para a Joinville e para a ETT
O diretor da Escola Técnica Tupy, Flavio Sartori, diz que é um orgulho acompanhar a trajetória dos egressos da instituição.
“Ver profissionais como o Guilherme fazendo história no país nos enche de satisfação e alegria. Ficamos honrados em saber que contribuímos na formação de pessoas que hoje estão fazendo a diferença e, com seu conhecimento e generosidade, podem oferecer algo grandioso à sociedade. É nisso que acreditamos, que é possível transformar o mundo pela educação e não há palavras para descrever nosso orgulho quando assistimos nossos ex-alunos em voos dessa magnitude”, diz.
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