BRASIL. O relatório da Polícia Federal sobre a tentativa de golpe de Estado em 2022, que resultou no indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de outras 36 pessoas, traz duras críticas à estratégia empregada. Segundo o documento, a ação foi baseada na disseminação de fake news e na mobilização de uma base radicalizada, mas tinha poucas chances de sucesso.
A investigação revelou que os envolvidos buscavam criar um ambiente de descrédito nas instituições democráticas, especialmente o Supremo Tribunal Federal (STF) e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Para isso, apostaram em uma narrativa falsa sobre vulnerabilidades no sistema eleitoral, repetida à exaustão em redes sociais e aplicativos de mensagens.
“Os investigados sabiam que a narrativa de fraude eleitoral era falsa, mas acreditavam que, se disseminada em grande escala, seria aceita pelo público-alvo pela repetição e pela familiaridade gerada”, aponta o relatório.
A PF destacou a atuação de uma “milícia digital” organizada para espalhar desinformação, utilizando figuras de autoridade para dar credibilidade às mentiras propagadas. O objetivo era fortalecer a percepção de que instrumentos legais seriam insuficientes para reverter supostas “injustiças”, incitando medidas mais drásticas contra o Poder Judiciário.
Apesar do sucesso em mobilizar uma base radicalizada, a Polícia Federal considerou a tentativa de golpe inverossímil e com chances remotas de êxito. “Mesmo cientes das dificuldades, os investigados utilizaram essa estratégia como fundamento para justificar a ação golpista”, conclui o relatório.