André Felipe Packer comemorou neste mês a tão sonhada formatura em Medicina, após 6 anos de estudo na Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre, um dos “braços” da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Ele conversou com a reportagem aqui do Nossas Notícias, concedendo a entrevista que segue abaixo.
Filho de Eni e Aldo Packer, sempre estudou em escola pública. O ensino fundamental foi na Escola Professora Selma Teixeira Graboski e o médio, na Escola Manuel da Nóbrega.
Apesar de ser filho de uma enfermeira por formação e de seu pai ter sido vice-prefeito, ele destacou que a família não tinha recursos para lhe pagar uma faculdade particular e que mesmo estudando um uma universidade federal, precisou fazer vários sacrifícios.
E além de tudo ter valido a pena, para ele o que importa agora é o retorno à Rio Negrinho, onde pretende atuar primeiramente através de um Consultório Virtual, com atendimentos presenciais entre uma e duas vezes no mês e depois, definitivamente presencial.
“Minha mãe é enfermeira, o pai foi vice-prefeito, mas não foi reeleito. Ele se aposentou, mas as condições financeiras lá em casa nunca foram as melhores para que eu pudesse estudar numa faculdade particular. E mesmo para continuar na federal, precisei economizar. Nesses seis anos morei em uma kitnet com 30 m². Não tinha cozinha, sala, quarto… Era tudo junto”, lembrou.
Agora formado, ele parte para dois anos de residência em Clínica Médica.
“A residência é uma especialização depois da graduação e vai durar dois anos. A Clínica Médica é um aprofundamento em várias áreas. Escolhi esse curso para oferecer um tratamento melhor, ter um maior conhecimento para abordar as doenças que a população tem. Acho que é isso que o povo de Rio Negrinho busca: além de um tratamento humano, um tratamento também especializado”.
E o primeiro passo para os atendimentos será através da internet, em um chamado Consultório Virtual, modalidade que se popularizou bastante durante a pandemia.
“A Telemedicina pode ajudar principalmente as pessoas que moram em lugares mais distantes, que não tem contato tão próximo com especialidades. São atendimentos para tirar dúvidas e requisição de alguns exames, por exemplo. Então uma vez por mês a pessoa vai fazer a consulta virtual comigo (entre 30 minutos a 1 hora, ou até mais quando necessário), para questões mais gerais e depois uma consulta presencial, para um bom exame físico, para eu poder entender o paciente como um todo. Essa consulta presencial é o melhor atendimento, onde conseguimos fazer um bom exame físico, ausculta cardíaca, um exame abdominal e por exemplo, se for uma pessoa idosa, fazer também um exame neurológico”.
Packer fez pré vestibular em Curitiba (PR) e morou seis anos na capital gaúcha. E neste sentido, porque não trabalhar em uma “cidade grande?”. Ele responde!
“Gosto muito da região, de Rio Negrinho em especial. Tenho um carinho muito grande pelas pessoas e pelo lugar. Nesses anos morando em duas capitais, senti muita falta do interior, do contato íntimo com as pessoas, de conhecer o vizinho … Isso é muito legal! Minha profissão exige bastante esse contato interpessoal e em função de tudo isso, a cidade é a ideal. Assim que terminar a residência e estiver com minha profissão mais consolidada, estimo voltar de vez para Rio Negrinho”.
Como se sente como médico agora?
“Sei que agora tenho a saúde e a vida de muitas pessoas em minhas mãos. Às vezes a gente acha que só precisa de estudo e treinamento para ser um médico. Mas o médico tem a responsabilidade de cuidar dos outros, de aliviar a dor e o sofrimento das pessoas. E para isso é preciso muita empatia, paciência e compaixão. Isso faz parte da profissão. Então agora, além de ser médico, preciso me tornar mais humano ainda, para oferecer um tratamento digno para as pessoas”.
Mensagem especial
“Já tive várias dúvidas na minha vida. Já quis ser engenheiro de som, porque tinha uma empresa de som. Mas depois minha mãe se tornou enfermeira e me ‘puxou’ para a área da saúde. Mas, sendo do interior e tendo estudado em escola pública, pensava que Medicina era algo muito distante. Porém, meus irmãos me incentivaram. O vestibular é difícil, mas com um cursinho dá para conseguir uma nota boa. Só tenho a agradecer também aos meus professores, que mesmo com todas as dificuldades do ensino público, me deram uma boa base. Isso foi excelente!
Não é fácil abandonar a família para poder conseguir um estudo fora. Foram 6 anos longe de casa, sentindo muita saudade. Cheguei a ficar 5 meses sem vir para Rio Negrinho.
Mas o meu maior recado é: nunca pense que você não pode!
Muita gente pensa que só quem é muito rico faz medicina, mas eu penso ao contrário: a única coisa que precisa é ter força de vontade, acreditar e nunca achar que a gente não pode, porque é do interior, porque a família não tem condições ou porque estudou em escola pública “.