BRASIL. O dólar atingiu nesta segunda-feira (16) o maior valor desde a criação do Plano Real, fechando em R$ 6,09. Mesmo com duas intervenções diretas do Banco Central (BC) ao longo do dia, a moeda americana manteve sua trajetória de alta, impulsionada principalmente pela desconfiança dos investidores quanto ao compromisso do governo com o equilíbrio fiscal e pelas pressões sazonais do fim de ano.
Para conter a disparada da moeda, o Banco Central realizou dois leilões de venda de dólares à vista, inundando o mercado com recursos das reservas internacionais. O primeiro leilão foi anunciado de forma extraordinária logo após a abertura dos negócios, por volta das 9h35, oferecendo US$ 1,6 bilhão. A medida surpreendeu investidores e fez o dólar recuar momentaneamente de R$ 6,10 para R$ 6,02.
Cerca de uma hora depois, às 10h20, o BC realizou o segundo leilão, já programado desde a última sexta-feira (13), com uma oferta adicional de US$ 3 bilhões. Apesar das intervenções, o mercado voltou a pressionar o câmbio ao longo do dia, e a moeda fechou em R$ 6,09, o maior valor da história.
O ex-diretor do Banco Central, Luiz Fernando Figueiredo, explicou que as ofertas de venda direta são voltadas para bancos e instituições cadastradas no mercado de câmbio. Já os leilões de linha, outro tipo de intervenção, envolvem a venda de dólares com compromisso de recompra no futuro, funcionando como uma espécie de empréstimo temporário para acalmar o mercado.
O economista Rodrigo Marchatti, CEO da Veedha Investimentos, destaca que a combinação de incertezas fiscais, falta de medidas concretas e especulação gerou um efeito manada no mercado de câmbio. Segundo ele, grandes fundos, bancos e investidores começaram a buscar proteção na moeda americana, o que impulsionou ainda mais a alta.
O economista ressalta que essa dinâmica pode desencadear impactos significativos na economia real, sobretudo no aumento da inflação:
“Se esse câmbio continua se desvalorizando, a cesta de produtos no Brasil, que tem muitos componentes importados, acaba sofrendo mais pressão inflacionária. Isso torna mais difícil para o Banco Central manter o controle sobre a meta de inflação”.
Além da falta de confiança fiscal, a alta do dólar também reflete a pressão sazonal típica do fim de ano. Nesta época, empresas multinacionais instaladas no Brasil aumentam a demanda por dólares para enviar lucros e dividendos ao exterior. Da mesma forma, investidores estrangeiros buscam proteger seus recursos, intensificando a procura pela moeda americana.
O Banco Central, ciente deste comportamento, costuma realizar leilões com mais frequência no último trimestre. Ainda assim, a intensidade da alta atual chamou a atenção e obrigou a autoridade monetária a antecipar suas intervenções para evitar um descontrole ainda maior.
Com reservas internacionais que superam os US$ 370 bilhões, o Banco Central ainda possui um importante fôlego para intervir no mercado cambial. A venda direta de dólares, como ocorreu nesta segunda-feira, serve para frear a especulação no curto prazo e trazer um pouco mais de previsibilidade aos negócios.
No entanto, especialistas alertam que as intervenções não resolverão o problema estrutural. A trajetória do câmbio continuará sendo influenciada pela percepção do mercado em relação à política fiscal do governo e pelo avanço da inflação.
Luiz Fernando Figueiredo lembra que, embora o Banco Central tenha instrumentos para agir, a confiança precisa ser recuperada: “O BC está fazendo o trabalho dele com as intervenções, mas é preciso um sinal firme de equilíbrio fiscal para acalmar os ânimos e trazer os investidores de volta ao real”.