REGIÃO. A notícia da morte do zagueiro uruguaio Juan Izquierdo, de 27 anos, na noite de ontem (27), cinco dias após sofrer um mal súbito durante uma partida da Libertadores no Morumbi, em São Paulo, além de comover o país e o mundo, acende um alerta sobre o quanto principalmente os jovens, podem vir a vida em decorrência da mesma situação.
O atleta, que jogava pelo Nacional na quinta-feira (22), foi imediatamente levado para o Hospital Albert Einstein, que confirmou a fatalidade. De acordo com o boletim médico, Izquierdo teve morte encefálica após uma parada cardiorrespiratória associada à arritmia cardíaca.
Buscando mais informações sobre a prevenção da doença, causas e sintomas, a reportagem aqui do Nossas Notícias conversou nesta manhã (28), com a cardiologista Silvia Rego, que fez várias orientações, principalmente ao público jovem. Ela atende no Hospital Sagrada Família, em São Bento do Sul e também no Hospital São Vicente de Paulo, em Mafra.
“Quando falamos em morte súbita, nos referimos à interrupção súbita e inesperada da atividade cardíaca, com um colapso hemodinâmico que ocorre em menos de 1 hora do início dos sintomas (que muitas vezes podem nem estar presentes )”, explicou.
A especialista afirmou que a incidência de morte súbita aumenta radicalmente com a idade e geralmente ocorre entre a sexta e sétima década da vida.
“Muitas vezes há grande associação com doença cardíaca. A proporção de todas as mortes devido à morte súbita cardíaca é de cerca de 13%. Lembrando que os homens possuem duas a três vezes mais probabilidade de sofrer parada cardíaca súbita do que as mulheres”.
Segundo ela, no Brasil, de forma geral, em maiores de 35 anos há uma forte correlação da morte súbita cardíaca com a doença arterial coronariana e 80% das vítimas tem doença obstrutiva das artérias do coração que leva ao infarto agudo do miocárdio.
“Mas quando falamos de morte súbita em jovens, é realmente ainda mais preocupante e traumático”
Uso de anabolizantes, drogas e tabagismo
“Quero destacar ainda que muitos jovens na atualidade estão usando anabolizantes, o que pode também contribuir com aparecimento de doenças graves como hipertensão arterial sistêmica, tromboses, insuficiência cardíaca , hepatite, aterosclerose, insuficiência renal e/ou progressão mais rápida de doenças já existentes ainda não diagnosticadas previamente. Não posso deixar também de citar o uso de drogas ilícitas e o tabagismo, que são fatores importantes de risco para eventos cardíaco”.
Morte súbita cardíaca em quem pratica esportes
A médica lembrou que além da questão da pouco idade, é comum se pensar que quem pratica esporte é ‘saudável’ e que não está sujeito a ter uma doença cardíaca que possa até levar à morte.
“Precisamos entender que existem doenças que podem ser silenciosas, e sim, o indivíduo pode ter uma doença cardíaca grave e com alto potencial maligno. O exercício físico possui condição protetora, desde que realizado de forma moderada. O exercício extenuante pode aumentar o risco de morte súbita”, apontou.
Fatores psicossociais, como situações de intenso estresse, também foram lembrados pela especialista, que destacou que essas são questões que fornecem risco aumentado para a morte súbita.
Dentre algumas das causas de morte súbita cardíaca em menores de 35 anos, ela citou:
• Miocardite
• Cardiomiopatia hipertrofica
• Síndrome do QT longo
• Displasia Arritmogenica do ventrículo direito
• Artéria coronária anômala
• Síndrome de Brugada
• Taquicardia Ventricular catecolaminérgica
• Fibrilação Ventricular idiopática
• Prolapso de valva mitral arritmogênica
• Síndrome de Wolff-Parkinson-White
Como recomendação, ela enfatizou que é fundamental implementar estratégias de rastreamento e prevenção de doenças cardiovasculares.
“Pois a morte pode ser a primeira manifestação da cardiopatia”.
Detectando os riscos
Considerando que a doença coronariana é a cardiopatia mais comum, dra. Silvia falou que recomenda-se o screening dos fatores de risco para aterosclerose, como medida da pressão arterial; interrupção do tabagismo e medida da glicemia ( investigação de diabetes ), perfil lipídico ( colesterol total e frações, triglicerídeos) e a presença de história familiar de morte súbita, que também é uma informação de suma importância.
“Para os jovens que estão realizando atividade física, recomendamos realizar uma consulta cardiológica. Muitas vezes um simples exame como o eletrocardiograma pode trazer informações valiosas, podendo salvar vidas. Então, a orientação é que procurem um médico cardiologista de sua confiança, para a realização de um check up antes de realizar atividade física”, finalizou.