Daqui a poucos dias as aulas iniciam em Santa Catarina. Este momento é uma oportunidade para colocar o check-up oftalmológico da garotada em dia, uma vez que problemas oculares podem afetar o aprendizado.
Dentre os erros de refração que mais atingem a infância estão o astigmatismo, a hipermetropia e a miopia. De acordo com o Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO), 30% das crianças em idade escolar no Brasil apresentam problemas de visão, enquanto 10% dos brasileiros, de sete a dez anos, precisam usar óculos.
“O desinteresse pelas aulas e a dificuldade de aprendizado podem estar associados à dificuldade de enxergar, já que pode levar a criança a perder o interesse em estudar e socializar, comprometendo o seu desenvolvimento. Para evitar isso, é importante levar os filhos para um exame oftalmológico no início da alfabetização e, depois, fazer um acompanhamento anualmente”, explica o oftalmologista Renato Machado Toscano do Dr. Vis Centro Oftalmológico, empresa do Grupo Opty.
O médico ressalta, no entanto, que desde a maternidade, os olhos merecem cuidados especiais, a exemplo do Teste do Olhinho.
“Trata-se do primeiro exame oftalmológico na infância. Simples, rápido e indolor, pode detectar problemas mais graves, que precisam de um exame mais específico para verificar precocemente eventuais doenças oculares, como catarata, glaucoma, opacidades da córnea, e tumores, a exemplo do retinoblastoma, bastante noticiado na imprensa nos últimos dias”, esclarece.
A partir de seis meses de idade, a primeira consulta oftalmológica já pode ser feita. Nessa primeira avaliação, ainda de acordo com o médico, é possível observar a presença de estrabismo, malformações congênitas ou presença de ametropias (grau) que necessitem de correção com óculos. A acuidade visual pode ser medida, se necessário, por exame complementar, chamado de Teller.
“Já a partir dos três anos, quando a criança consegue informar e identificar desenhos, é possível obter a acuidade visual. Dessa forma, o exame oftalmológico é muito mais preciso. Por isso, uma nova consulta nesta idade é de extrema importância. Por fim, temos o início da alfabetização para buscar o oftalmologista novamente e, após esse momento, fazer um acompanhamento anual”, detalha.
Sinais e Sintomas
O médico faz um alerta sobre a importância dos pais e professores estarem atentos aos sintomas, já que quanto mais cedo for detectado o problema, maiores são as chances de tratamento. Ele cita alguns dos comportamentos que devem ser observados, sendo eles:
- Queda do nível de rendimento escolar. Lembre-se que a visão é responsável por 70% do nosso contato com o mundo exterior, portanto, se a criança apresenta alguma dificuldade para enxergar, é natural que seu aprendizado seja comprometido, já que ela não reconhece formas e letras.
- Apertar os olhos ou entortar a cabeça na hora de ler ou assistir televisão. O ato significa que a criança está forçando os olhos a enxergar com maior nitidez, já que, ao apertá-los, criamos uma fenda menor nas pálpebras (pinhole), eliminando os raios periféricos e concentrando somente os raios centrais da visão.
- Sentir dores de cabeça frequentes na região frontal. Nesse caso, mais do que um problema de visão, se a criança passa horas em frente ao computador, tablet ou videogame, ela provavelmente apresentará vista cansada. O uso de telas, que é bastante comum em tempos de férias, deve ser evitado para crianças com até dois anos de idade. Para crianças maiores o tempo é limitado e variável, de acordo com a idade. Os pais devem conversar com um oftalmologista para ver qual a melhor recomendação para seu filho e incentivar brincadeiras ao ar livre para estimular a visão à longa distância.
- Se aproximar muito dos objetos que quer ver ou levá-los até bem próximo ao rosto, para poder enxergá-los melhor.
- Ter dificuldade em reconhecer pessoas e até tropeçar em objetos enquanto anda.
- Lacrimejamento frequentemente dos olhos. As causas podem variar desde conjuntivites alérgicas ou virais, que são facilmente tratadas, até problemas na formação do canal lacrimal, que não se desenvolveu adequadamente durante a gestação.
Problemas mais comuns
Ainda de acordo com o oftalmologista, entre as doenças oculares mais corriqueiras na infância estão as ametropias (altos graus de miopia, astigmatismo e hipermetropia), anisometropias (diferença de grau entre os olhos), estrabismo (“olho torto”), ambliopia (“olho preguiçoso”) e conjuntivites alérgicas.
As ametropias ou erros refracionais, como a hipermetropia (dificuldade para enxergar de perto), o astigmatismo (imperfeição na curvatura do olho) e a miopia (dificuldade para enxergar ao longe), provocam sintomas como embaçamento, dores de cabeça e cansaço visual, mas que podem ser facilmente corrigidos com o uso de óculos de grau.
O estrabismo (desalinhamento dos olhos) normalmente é perceptível em fotografias ou mesmo durante atividades do cotidiano. Ao suspeitar sobre sua existência, os pais devem levar a criança ao oftalmologista.
A ambliopia, também conhecida como olho preguiçoso, é a diminuição da capacidade visual, que ocorre, principalmente, pela falta de estímulo ao olho afetado durante o desenvolvimento da visão. Ocorre em 2% da população infantil e pode se manifestar do nascimento até os 8 anos de idade. Quanto mais precoce aparecer, maior sua gravidade. O uso de tampão no olho sadio é recomendado pelo oftalmologista como forma de ativar o desenvolvimento do olho preguiçoso. Quanto mais precoce o tratamento, melhores as chances de recuperação do olho amblíope.
Por fim, problema passageiro, mas que também pode prejudicar a visão, a conjuntivite alérgica é bem comum nas crianças e pode se manifestar com coceira frequente, olhos vermelhos, piscar frequente e secreção ocular. Deve ser tratada, pois o coçar constante dos olhos na infância pode acarretar alterações corneanas como o ceratocone no futuro.