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Único sobrevivente de acidente nas 27 Curvas em 2014, Peter fala sobre resultado de júri popular; acusado foi condenado mas recorre em liberdade

REGIÃO. Vanderlei Fernandes de Souza, o Peter, único sobrevivente do acidente de 6 de setembro de 2014, nas 27 curvas, em São Bento do Sul, e que à época estava com 16 anos, falou a nossa reportagem sobre o resultado do júri popular de Milton Ruckl, condenado a 23 anos e quatro meses de prisão, mas cuja sentença dada lhe permite recorrer em liberdade.

Ruckl dirigia sua BMW após ter ingerido bebida alcoólica e teria saído do centro de São Bento do Sul, seguindo pela SC-418 onde em alta velocidade teria feito uma ultrapassagem em local proibido, passado por cima das “tartarugas” da via e invadido a pista contrária, batendo em um Kadett Ipanema, ocupado por sete pessoas, matando seis na hora.

“Foi complicado, não conhecia ele pessoalmente. Foi uma dor muito grande. Ele comentou que não podia ser preso porque seu filho ia sentir falta, mas eu também perdi minha mãe no acidente. Não tenho mais nada, não tenho com quem conversar, falar dos meus problemas…”, relatou.

“O resultado não foi bem o que eu imaginava, mas ainda acredito que a Justiça, nessas próximas fases do processo que ainda vão ocorrer, isso poderá acontecer”.

“Desde os 16 anos tive que aprender a lidar com morte, com advogados e minha maior dor, foi não poder estar no velório da minha mãe e amigos. Queria ter estado presente”, recorda.

Ainda sobre a sentença, ele se diz ciente de que o posicionamento definitivo do judiciário ainda virá de Florianópolis, mas teme pela decisão, levando em conta que já se levaram oito anos para que acontecesse o júri popular.

“A tragédia que aconteceu foi algo muito errado,”, desabafa.

Peter aproveitou a conversa com o Nossas Notícias para agradecer o Hospital Sagrada Família, de São Bento do Sul, pelo atendimento que recebeu e pelo empenho dos profissionais que lhe atenderam após o acidente, que ainda hoje lhe traz sequelas.

“Eu sofri um traumatismo craniano e ainda hoje tomo remédio por conta da lesão grave na cabeça”, diz o rapaz.

“Tenho também dores na perna e em dias de frio e de chuva fica pior. Antes do acidente, tinha vontade de seguir a carreira militar, que era um sonho da minha mãe, mas agora não irá se concretizar. Queria sair com a minha mãe no fim de semana, tomar um sorvete com ela, passear, mas hoje só posso visitar seu túmulo…”, lamenta.

Peter ainda agradece a promotoria que fez, segundo ele, de tudo para que Ruckl pudesse ir para trás das grades.

“Agradeço pela luta que tiveram, mas o réu estava bem amparado”, cita.

Ainda em seus agradecimentos, o rapaz fala com carinho da irmã Veridiana Fernandes de Souza, que com 19 anos à época do acidente, largou tudo para cuidar dele e do irmão, que eram menores de idade

“Ela sepultou a mãe e ao mesmo tempo ajudou a cuidar de mim no hospital. Também o Cleiton Knopik, que mora em Fragosos, foi como um pai pra mim. Minha irmã é quem me levava no banheiro, ajudava a me deslocar, dava conselhos, me consolava falando que minha mãe estava em um lugar bom”, recorda e ao mesmo se emociona, lembrando do que sente principalmente quando chega o Dia das Mães.

“É uma data muito complicada e enquanto os outros pensam em dar presentes, só posso levar flores no cemitério e conversar com ela. Fico revoltado, pois a vida de muitas famílias foi destruída e ninguém admite o erro”, desabafa ainda o jovem que também que esperava que o réu pedisse perdão pelo que fez.

Nova vida
Se por um lado Peter conviverá com a dor da perda da mãe por toda vida, a data de 6 de setembro também lhe traz um motivo para sorrir. O dia coincide com o do nascimento de seu filho.

“Tiraram uma pedra preciosa da minha vida, mas deram outra. Meu filho nasceu para me confortar um pouco. Comemoro o aniversário dele, mas lembro o que sofri com a perda da mãe”, relata.

Outra lembrança que Peter traz com carinho é da casa onde a família residia em Fragosos, em Campo Alegre.

“Quando vamos para Fragosos, lembro da antiga casa no interior. A mãe disse que nunca era para vendermos a casa da família. Isso também acaba confortando um pouco a gente, quando vamos até lá, para lembrar de momentos bons que tivemos em família”, encerra.

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