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Rio-negrinhense conclui doutorado com tese sobre o uso de plantas por imigrantes poloneses do Planalto Norte através dos tempos

RIO NEGRINHO . A rio-negrinhense Rafaela Ludwinsky defendeu recentemente sua tese de doutorado sobre as temáticas da etnoecologia em contextos de migração, pelo Programa de Pós Graduação em Ecologia da UFSC.

O trabalho de Rafaela foi orientado pela Profa. Dra. Natalia Hanazaki e coordenado pelo prof. Dr. Nivaldo Peroni, grandes pesquisadores da área de etno, referências nacionais e internacionais.

Ela falou ao Nossas Notícias sobre o trabalho de intensa pesquisa realizado em cidades do planalto norte de Santa Catarina, a motivação pelo tema e perspectivas futuras.

O que é a etnoecologia?

“A etnoecologia permite cruzar referenciais teóricos clássicos como os da antropologia e ecologia para entender os conhecimentos e usos da biodiversidade por populações humanas”, cita a agora doutora.

Ela explicou também que quando seu olhar sobre o conhecimento e uso através de gerações de descendentes de imigrantes foi embasado nas reflexões etnoecológicas dentro destes contextos migracionais.

“Mas por que isso seria importante? Porque diversidade biológica e diversidade cultural estão diretamente relacionadas. Investigar a migração/imigração e o manejo de recursos biológicos nos permite entender como que se dão os processos de transformação de conhecimentos associados as plantas e de transformação das paisagens”, explica.

Segundo Rafaela, vivemos num mundo de constantes mudanças, no qual os conhecimentos tradicionais podem ser um salvaguarda em momentos de crise econômica/ambiental.

“Para esta investigação, como recorte étnico, escolhemos a imigração polonesa das ondas imigratórias da época da febre brasileira (1880 – 1910). Esse recorte temporal nos permitiu conversar com descendentes de segundo, terceira e quarta geração”, cita.

Os campos e coletas de dados ocorreram em São Bento do Sul, Rio Negrinho e Itaiópolis, locais que tiveram forte presença das colônias de imigração (como em São Bento do Sul e Itaiópolis – na época Rio Negrinho não era emancipada) e tem presença de sociedades culturais tais quais a Sociedade Varsóvia de São Bento do Sul, Sociedade Cracóvia em Rio Negrinho e Associação Cultural de Polonesa de Itaiópolis.

“Através da pesquisa nós descobrimos que existe uma tendência de perda de conhecimento de plantas entre as gerações mais novas (pessoas de segunda geração citaram mais plantas do que pessoas de quarta geração), além de uma adaptação de ingredientes e sabores na alimentação entendida como tradicional polonesa”, diz Rafaela.

O estudo também apontou para evidências que sustentam uma construção de nicho através de elementos arbóreos, arborescentes e de palmeiras presentes em quintais.

“Os achados da tese foram inclusive publicados nos periódicos internacionais Journal of Economic Botany e Journal of ethnic foods”, comenta a doutora.

A Banca de avaliação foi formada por especialistas com vasta experiência como a Doutora Michele de Sá Dechoum, Doutora Karine Louise dos Santos (ambas da UFSC) e a Doutora Bozena Karolina Bielenin-Lenczowska (Universidade de Warsóvia).

“A apresentação/síntese da tese pode ser vista no canal do Youtube do Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica .

O tema

A jovem explicou também porque escolheu o tema.

“Particularmente, considero que muitos foram os motivos que direcionaram o tema de pesquisa. Sempre tive curiosidade pelos motivos que pessoas tem em mudar de local, e no tempo que levam para se adaptar com a cultura e a biodiversidade dos locais onde moram ou passam a morar ”, descreve.

“Como sou descendente de poloneses por parte de meu pai, sempre ouvi em casa histórias sobre os antepassados, as dificuldades que passaram para dar uma vida melhor aos seus filhos e netos”, cita ainda.

Rafaela é formada em Biologia e destacou que em sua época de graduação sentia falta de discussões que abordassem a integração do ser humano enquanto parte da natureza e não enquanto “uma espécie que está ‘acima da natureza’”.

“Foi quando li um artigo intitulado “Comunidades, conservação e manejo: o papel do conhecimento ecológico local”, de Natália Hanazaki, que fiquei inspirada e motivada pelas discussões”, completa.

“A autora do artigo veio a ser minha orientadora de mestrado através do Programa de Pós-graduação em Biologia de Fungos, Algas e Plantas da UFSC e em sequência orientou meu doutorado o Programa de Pós-graduação em Ecologia, na mesma instituição”, diz.

Outras perspectivas

Após a defesa de doutorado Rafaela disse que ainda tem algumas pendências burocráticas para finalizar, como adicionar as sugestões e correções da banca avaliadora no documento escrito da tese e fazer o depósito deste documento na Biblioteca Universitária.

“A tese poderá ser acessada na íntegra através do site da Biblioteca Universitária da UFSC”, explica.

Além disso, como parte de um compromisso em respeito a todos os colaboradores da pesquisa, a jovem pretende realizar as devolutivas para as associações culturais da região, de maneira que cada local possa usar os resultados da pesquisa, criar estratégias, para seus propósitos de manutenção cultural.

“Ou seja, ainda tem trabalho pela frente. Sigo colaborando com o Laboratório de Ecologia Humana e Etnobotânica e buscando oportunidades para seguir contribuindo para a disciplina”, encerra.

Fonte: Rafaela Ludwinsky
Fonte: Rafaela Ludwinsky
Fonte: Rafaela Ludwinsky

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