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Junho Violeta: mês de alerta sobre o ceratocone

Para conscientizar a população sobre prevenção e tratamento, Junho Violeta é a campanha de alerta sobre o ceratocone, uma doença ocular multifatorial que danifica a estrutura da córnea e, de acordo com dados do Ministério da Saúde, causa o comprometimento da visão de cerca de 150 mil brasileiros ao ano. A falta de informação e acompanhamento médico, pode agravar o problema ainda mais. “Coçar os olhos com frequência pode causar danos na estrutura da córnea, fazendo com que o ceratocone alcance estágios avançados, alerta a campanha Junho Violeta. Embora seja uma doença também genética, fatores comportamentais podem agravá-la. Não é normal sentir coceira nos olhos o tempo todo, logo, procure um médico para resolver a causa do problema”, explica o especialista Dr. Jeferson Lautert, oftalmologista do Hospital de Olhos Sadalla Amin Ghanem, empresa do Grupo Opty. “Indiretamente, a pandemia e a orientação de não levar as mãos aos olhos para evitar contaminação pelo novo coronavírus têm auxiliado na redução desse hábito, mas é essencial que as pessoas levem essa prática para toda a vida”, comenta. Para esclarecer e informar sobre a doença, confira a entrevista que fizemos com o Dr. Jeferson e tire suas dúvidas. O que é ceratocone?  Ceratocone é o que chamamos de ectasia da córnea, uma doença que causa um aumento da curvatura da córnea, da irregularidade do astigmatismo e também há um afinamento corneano, os quais geram significativa perda visual. Com essas alterações, a córnea apresenta uma saliência, em um formato semelhante a um cone. É uma doença que tem mecanismos genéticos associados, mas que depende da associação principal da alergia nos olhos, que pode ser relacionada com a rinite alérgica e também com a alergia na pele (dermatite atópica). Portanto, há a tendência genética do paciente e há o fator ambiental, que leva à manifestação e progressão da doença. Quais os principais sintomas? Existe um público mais suscetível à doença?  O principal sintoma é o embaçamento visual. O perfil é de pacientes jovens: adolescentes e adultos jovens até os 30 anos, com associação de alguma alergia ou coceira nos olhos, por isso o alerta da campanha Junho Violeta é para não coçar os olhos, como uma forma de prevenir o ceratocone. Pessoas com Síndrome de Down também apresentam maior predisposição. A doença pode estar associada a outros problemas de visão?  Na consulta, o que nos chama atenção, além desse perfil de paciente, é a questão de a pessoa ter um astigmatismo alto que, mesmo corrigido, não ocorre a melhora da visão. O desenvolvimento da doença é gradual e a velocidade da progressão depende muito de cada indivíduo e da associação à alergia. Quando o paciente tem o aparecimento do astigmatismo, continua coçando os olhos e não procura o oftalmologista, a tendência é que a condição piore. Há prevenção para a doença? Sim, a melhor prevenção é evitar coçar os olhos, como é o alerta principal da campanha Junho Violeta, e fazer consultas regulares com seu médico oftalmologista. Com a pandemia de Covid-19, percebemos que aumentou o cuidado das pessoas em não coçar os olhos. No consultório, percebemos que, como as pessoas evitam mais levar as mãos aos olhos, houve diminuição de casos de conjuntivite bacteriana e viral, que são contagiosas. Esse cuidado também pode ter ajudado na prevenção do ceratocone. A doença tem cura? Quais os tratamentos possíveis? Há avanços recentes? Infelizmente, o ceratocone não tem cura, mas há vários tratamentos disponíveis. Fazemos a abordagem em dois aspectos. O primeiro é sobre evitar a piora, ou seja, não coçar os olhos e tratar a possível alergia ocular. Também temos que cuidar da rinite alérgica ou dermatite atópica, que são alergias sistêmicas do organismo. Se o paciente apresenta esses problemas, é necessário um enfoque multiprofissional, com o acompanhamento de um alergista, otorrinolaringologista, pediatra ou dermatologista, porque às vezes o tratamento ocular apenas não é tão efetivo. Se o oftalmologista perceber pelos exames que o paciente está tendo uma piora das curvaturas, existe um tratamento chamado crosslinking, que é uma cirurgia na qual o especialista faz uma raspagem do epitélio (camada superficial da córnea) e vai pingando uma vitamina chamada riboflavina. Essa vitamina penetra nas fibras de colágeno da córnea, na parte mais interna. Na etapa final da cirurgia, expomos o paciente à luz ultravioleta controlada, o que causa uma reação química de maior entrelaçamento dessas fibras, provocando maiores ligações. Isso dá mais estabilidade e rigidez à córnea, fazendo com que fique mais resistente ao processo de progressão. Contudo, mesmo que o paciente tenha feito o crosslinking, é importante orientá-lo a evitar coçar o olho. Se ele continuar com o processo alérgico intenso e permanecer coçando o olho, o ceratocone pode aumentar. O segundo aspecto da abordagem do ceratocone são os tratamentos para a melhora da visão, para a reabilitação visual. Eu explico didaticamente ao paciente que o tratamento do ceratocone é como se fosse uma escada: a gente só vai para o nível superior, se aquele que a gente está não for suficiente. Então, o primeiro passo é verificar como está a visão do paciente com ceratocone, é realizar a refração, o exame para determinar o grau dos óculos. Se ele alcançar uma boa visão, o paciente do ceratocone pode usar óculos – às vezes, há um grau mais alto de miopia e ou astigmatismo –, mas se der uma boa visão, é um passo importante. Porém, se a visão não for satisfatória, a opção é realizar os testes de lentes de contato. Nesse caso, para a melhora da visão de uma córnea irregular, há as lentes rígidas fluorcarbonadas e as lentes esclerais. Ambas ajudam a corrigir a óptica do ceratocone e permitem uma visão mais nítida, corrigindo o astigmatismo irregular. Porém, quando o paciente retira a lente, ao final do dia, antes de dormir, o ceratocone continua lá. As lentes são um artifício apenas para a pessoa enxergar melhor. É sempre bom, se ele tiver óculos, usá-los também. O terceiro degrau dessa escada é o anel intraestromal, que ficou conhecido como anel de Ferrara. São segmentos de material acrílico implantados dentro da córnea que promovem um estiramento dessas fibras e um aplanamento da córnea na parte central, com isso diminuindo os valores de curvatura, mas também ajudando a regularizar o astigmatismo, permitindo uma melhora na visão. Porém, na maioria dos casos, às vezes é necessário continuar usando os óculos de grau ou mesmo continuar uma adaptação de uma lente de contato. E, por último nessa escala, há o transplante de córnea. Hoje há algumas técnicas mais avançadas, em que se retira apenas uma camada da córnea, a parte anterior, o chamado transplante lamelar anterior. O transplante é a última opção, quando o paciente já tem uma córnea com uma curvatura muito extrema, um afinamento grande ou alguma cicatriz na córnea, ou seja, casos em que não são indicados fazer o anel, ou em que a lente de contato ou os óculos não tenham resolvido satisfatoriamente. A cirurgia de transplante é muito importante, porém corre-se o risco de falência e rejeição. Por isso deve ser usada como último recurso. 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