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Professora venezuelana que ganhava salário de R$ 20,00 por mês espera viver com prosperidade no Brasil

RIO NEGRINHO. Se por um lado esse período de pandemia e isolamento social, que se arrastam há mais de quatro meses trás angústia e incertezas, por outro também traz a oportunidade de cada um parar, olhar para si,  “olhar o cenário lá fora” e ver que novas  oportunidades esse novo tempo pode nos proporcionar. E foi a busca a partir desse “olhar para dentro” e “olhar para fora” ao mesmo tempo, que como empreendedora,  proprietária do Nossas Notícias, me inscrevi no programa Salto Aceleradora de MEIs do Sebrae de Santa Catarina. Esse programa é gratuito e tem o objetivo de ajudar MEIs a crescer, desenvolver sua liderança e habilidades empreendedoras e potencializar a sua evolução para uma microempresa. Todo o trabalho é realizado via internet, com o acompanhamento de especialistas do programa Cidade Empreendedora em parceria com o Impact Hub e o Sebrae. Além das atividades individuais faço parte da turma ’20, que reúne em um grupo de whatsapp 196 empreendedores de diferentes regiões de Santa Catarina. Nesse grupo interagimos com os facilitadores e também trocamos informações sobre nossas atividades. E foi nessa troca de informações que me chamou a atenção a apresentação de Yadilui Sanchez, venezuelana que mora em Jaraguá do Sul (SC). A resumida auto-apresentação que ela fez no grupo me fez chamá-la no “p.v.” (conversa privada), onde pude perceber o quanto, sim, estamos todos no “mesmo barco” e o quanto, mesmo de tão longe, trazemos os mesmos anseios e desejos de nos tornarmos melhores, evoluirmos e progredirmos. Porque no final, não é de onde somos, que sobrenome, cor, altura, peso ou quanto dinheiro temos, mas sim, quem somos! Vem conhecer a história da Yadilui (na foto abaixo) no texto que segue! Yadilui Sanchez (na foto), tem 37 anos e é da cidade de Puerto Ordaz, na Venezuela. Viúva, mãe de dois filhos: um menino de 8 e uma menina de 17 anos, mora há cinco meses em Jaraguá do Sul (SC) mas já morou em Boa Vista (RO) por três anos e Joinville (SC). Ela entrou no no programa Salto Aceleradora de MEIs porque deseja lançar um serviço de venda de  comida venezuelana. A mãe de Yadilui ainda mora na Venezuela. Confira a entrevista completa! Nossas Notícias –  Porque você saiu da Venezuela?  Yadilui – Porque lá tinha muitas carências de tudo. De comida, de segurança, de qualidade de vida e o mais importante: não tinha como me sustentar com um emprego formal. Lá eu era professora concursada na escola pública e o salário era menos que R$ 20,00 por mês. Nossas Notícias – E como você fazia para viver com seus filhos e sua família? Yadilui – Então, para sustentar meus filhos tinha que fazer outros trabalhos extras. Daí fiquei cansada e comecei a procurar uma cidade ótima no Brasil. Morei em Boa Vista ( AM)  porque era o mais perto da Venezuela que tinha, mas não adiantou. Nossas Notícias – E como você chegou aqui no Sul do Brasil? Yadilui – Eu procurava uma cidade com muito emprego e boa qualidade de vida. Fiz uma pesquisa e vi que Joinville se encaixava no que eu estava procurando e me mudei para lá. Mas consegui umas horas para dar aulas de Espanhol e Inglês em Jaraguá do Sul e me mudei novamente. Amei a cidade porque é muito parecida com Puerto Ordaz e é mais pequena e segura que Joinville. Nossas Notícias – E porque você escolheu o Brasil? Yadilui – Me mudar para um país da América do Sul era o destino que tinha, de acordo com minha capacidade monetária. E eu queria escolher o país e as cidades com maior progresso. Outra coisa importante é que no ano passado saiu a esquerda do poder no Brasil,  então me sentia segura nesse tópico. Nossas Notícias – E como é o seu trabalho como professora em Jaraguá do Sul?  Yadilui – Eu trabalho na Be Us School e estou  muito agradecida com os meus chefes porque são os que me derem a primeira oportunidade aqui no Brasil. Meus colegas também são ótimos! Nossas Notícias – E que tipo de negócio exatamente você quer abrir em Jaraguá do Sul? Yadilui – A ideia mesmo é vender comida venezuelana. Por enquanto vou començar com um prato chamado Tequenhos, muito popular nas festas e reuniões na Venezuela. Eu tinha  a previsão de começar há alguns meses atrás mas a pandemia deixou tudo parado. Nossas Notícias – E como é esse prato? Yadilui – É um palito de queijo, com muito queijo, enrolado por uma massa de trigo frita. Leva três ingredientes apenas: farinha de trigo, queijo, ovo e leite. Eu cheguei a fazer umas amostras grátis para algumas pessoas conhecerem mas formalmente ainda não consigo produzir também porque não posso gastar, comprando muito material que não sei se vai sair. [caption id="attachment_28694" align="alignnone" width="300"] Yadilui se inscreveu no programa de aceleração de MEI’s porque quer começar a vender Tequenhos em Jaraguá do Sul[/caption] Nossas Notícias – E como está sendo sua experiência no Brasil? Era o que você esperava? Você sofreu algum preconceito por ser de outro país?  Yadilui – Preconceito nunca! O povo brasileiro é muito acolhedor! Em Joinville conheci um casal que ajuda os imigrantes e eles ajudaram muito a gente nos primeiros meses, com doações e aulas de português. Em Boa Vista no princípio foi bom porque não tinha tantos imigrantes. Depois que a cidade ficou lotada foi ruim.Muitas pessoas morando na rua, não tem emprego…Começou a haver muita xenofobia porque a delinquência aumentou e os roraimenses ficaram com raiva dos venezuelanos porque na cidade havia muitos refugiados venezuelanos. Agora não sei como estão as coisas, com a pandemia mas eu tenho como meta alcançar minha liberdade financeira. O meu desejo é prosperar aqui no Brasil!

Boa sorte, Yadi! 

Dados A imigração venezuelana para o Brasil resulta do cenário de crise em que vivem os venezuelanos. Essa crise perpassa questões políticas, econômicas e sociais. Em 2013, com  uma inflação que ultrapassava 800% ao ano e barris de petróleo apresentando altas em seu preço, o país viu-se imerso em um colapso econômico, que resultou em uma dramática crise humanitária. Faltavam no país insumos básicos para a sobrevivência. Os supermercados não atendiam a população. Faltavam alimentos e medicação. Por causa dessa triste realidade, milhares de venezuelanos decidiram migrar para outros países à procura de trabalho e de melhores condições de vida. De acordo com dados da ACNUR, agência da ONU para refugiados, o Brasil é, em toda a América Latina, o país com o maior número de refugiados venezuelanos reconhecidos oficialmente. Com os 17 mil venezuelanos reconhecidos pelo governo brasileiro em janeiro deste ano, o número de refugiados reconhecidos no país ultrapassa os 37 mil. Conforme a agência, o fluxo de venezuelanos e venezuelanas é o maior êxodo da história recente da América Latina e a ONU estima que mais de 4,7 milhões de pessoas já deixaram seu país de origem. As autoridades brasileiras estimam que cerca de 264 mil venezuelanos vivem atualmente no país. Uma média de 500 venezuelanos continua a atravessar fronteira com o Brasil todos os dias, principalmente para o estado de Roraima. Até o momento, mais de 768 mil solicitações de reconhecimento da condição de refugiado foram registradas por venezuelanos em todo o mundo, a maioria nos países da América Latina e no Caribe.
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