Kelen Sbolli é adestradora profissional de cães. Proprietária da Vita Canis, atende em Curitiba PR Rio Negrinho e em varvár outras cidades do Sul do Brasil. Escreve para o Nossas Notícias todos os domingos. Contatos com a colunista podem ser feitos pelo: zsbolli@yahoo.com.br *************************************** Agressividade, distúrbios compulsivos, ansiedade generalizada, vocalizações excessivas, medos diversos, ansiedade de separação, problemas orgânicos como diabetes, pressão alta, problemas de pele, câncer, são só alguns sintomas que podem estar relacionados ao modo como tratamos nossos cães. Novo modelo familiar Hoje em dia é muito comum famílias pequenas com apenas um filho ou até mesmo só o casal com um ou mais cachorros. Este novo modelo familiar multiespécie facilita o que chamamos de humanização excessiva dos cães. Chamá-los de “filho”, “meu neto” por si só, não causa nenhum dano. Porém, isso passa a ficar complicado quando transferimos características infantis a eles. Já é bastante comum observarmos nas ruas cães com sapatinhos, em carrinho bebê, tomando banho em ofurôs, com excesso de perfume e até mesmo com chupeta! Com certeza, este animal terá sérios problemas comportamentais, emocionais pela destruição quase completa de seus instintos. O que leva as pessoas a fazerem isso? O ser humano muitas vezes prefere a companhia dos cães à de outro ser humano baseado na lealdade e amor incondicional do seu pet, o que nem sempre encontramos nas pessoas. Outra razão é o afastamento do ser humano com a natureza. Levando o cão para dentro de casa é uma maneira instintiva de ficarmos em contato com a natureza. Tratando cães como “mini seres humanos” O problema é que projetamos neles nossas expectativas, frustrações e desejos e tentamos transformá-los em “mini seres humanos”. Quando interferimos na natureza do cão, eles perdem sua identidade e pior, passam a se identificar com seus tutores podendo somatizar doenças e sintomas do seu próprio dono. Na verdade, quando humanizamos os cães em demasia, nós estamos sendo egoístas, os estamos usando para carregar sentimentos e problemas psicológicos que são só nossos e nunca deles. Família multiespécie A família multiespécie já é uma realidade no mundo. O cão como membro da família é um fato irreversível. Seu lugar no sistema familiar já está estabelecido. Ele faz parte da rede ou campo mórfico, segundo Rupert Sheldrake, e isso facilita a conexão “energética” com a família. Até aí não tem nenhuma problema. Entretanto, todos os membros de uma família tem seu local no sistema familiar. Há uma ordem. Quando humanizamos os cães, nós tiramos sua essência e seu local correto dentro desta rede familiar. Todos os membros de uma família devem ter sua individualidade respeitada e isto não pode ser diferente com os cães. Os cães não precisam de sapatos Os cães não precisam de sapatos. Eles precisam sentir a terra, a grama, trocar energia. Não precisam de carrinhos para passear. Eles precisam caminhar, sentir o cheiro do mundo, correr, conviver com outro ser de sua espécie, usar sua linguagem corporal. Os cães não precisam de televisão. Eles precisam de espaço para brincar e exercitar suas habilidades caninas. Observe seu cão Observe seu cão. Perceba suas reais necessidades. Veja o que realmente o faz feliz. Respeite sua natureza. Amor, carinho, cuidados médicos são mais do que o direito deles, é nossa obrigação para com eles. Dar limites, mostrar o que podem ou não fazer, não colocar expectativas ou sobrecarregá-los com nossos desejos também é um ato de amor. ]]>