Kelen Sbolli é adestradora profissional de cães. É proprietária da Vita Canis e atende em Curitiba (PR) e em Rio Negrinho (SC). Escreve todos os sábados no Nossas Notícias. Contatos com a colunista podem ser feitos pelo e-mail: zsbolli@yahoo.com.br *************************************** A ansiedade de separação em cães é um problema complexo e grave e é definido na medicina veterinária como SAS (Síndrome da Ansiedade de Separação). O próprio nome já define sua complexidade. Em termos médicos, “síndrome” é um conjunto de sinais e sintomas que definem uma patologia, podendo resultar de mais de uma causa. Ao contrário da “doença”, que é relacionada a sintomas específicos. A síndrome é um conjunto de comportamentos do cão quando ele é deixado sozinho A SAS é um conjunto de comportamentos aprensentado pelo cão quando este é deixado sozinho. Os sintomas são variados, podendo ser de média a alta intensidade. Exemplos: Vocalização excessiva (choramingos, latidos e uivos), xixi e cocô em lugares não habituais, destruição de móveis, portas, sofás etc, automutilação por lambedura, babar excessivamente, falta de apetite, depressão ou inquietude são os mais comuns. A angústia já começa antes mesmo do dono sair de casa. Ao se arrumar para sair ou pegar bolsas e chaves, o cão já antecipa que ficará sozinho e pode “seguir” o dono pela casa, fica ofegante e começa a choramingar. Por que alguns cães se comportam assim? Mas por que alguns cães apresentam este comportamento e outros não? Se os sintomas são complexos, as causas são inúmeras. Podem ser desde causa genética, traumas, falta de socialização, solidão, dependência excessiva do dono até a ansiedade e alteração psicológica do proprietário. Cão inseguro, que não passou por obediência básica e socialização com outros cães e pessoas, não tem estímulos como passeios e exercícios e ainda com um dono ansioso, é a receita para problemas de comportamento. Este cão é uma bomba relógio. Evite que seu animal desenvolva esta síndrome Para evitar que seu animal desenvolva esta síndrome, é importante estimulá-lo desde pequeno com brinquedos diversos, exercitar sua mente com exercícios de obediência básica através de adestramento e acostumá-lo a ficar sozinho pouco a pouco. Avaliação por médico veterinário Mas se o seu cão já estiver apresentando a SAS é importante, em primeiro lugar, passar por uma avaliação pelo médico veterinário para descartar qualquer problema físico como causa. Depois da revisão médica, é importante ter em mente que nenhum castigo, bronca ou punição resolverá o problema. Ao contrário, só irá piorar! Seu amigo canino está sofrendo e precisará de sua paciência e amor. Como você pode fazer Ao sair de casa Diante disso, alguns detalhes podem fazer muita diferença. Ao sair, procure manter a calma e não se despedir do seu cão pois isso criará nele uma expectativa exacerbada pela sua volta aumentando a ansiedade. Ao chegar em casa Da mesma maneira, ao chegar em casa, somente dê atenção e carinho quando ele se acalmar. Não dê nenhuma bronca com a bagunça que ele eventualmente tenha feito. Acalme-se primeiro e depois arrume tudo sem valorizar isso na frente do seu cão. Pequenos exercícios alternando rápidas saídas com ausências mais longas vão ajudar o seu cão a perceber que você voltará. Deixar brinquedos que o ocupem por bastante tempo é fundamental (garrafas pet com ração, Kong etc), bem como alternar estes brinquedos no decorrer dos dias. Passeio diário é obrigatório, de preferência antes de sair por um período maior. Se for necessário, creche em dias alternados e até mesmo um acompanhamento com medicamento ansiolítico. Trabalhe a si mesmo (a) também Tão importante quanto trabalhar o seu cão, é trabalhar a si mesmo. Perguntar-se: “o que estou fazendo que está provocando ou reforçando este comportamento do meu cão?” O comportamento do animal é um termômetro do nosso próprio comportamento. Um caso que trabalhei Para ilustrar, vou relatar um caso em que trabalhei. Um Shih Tzu de aproximadamente dois anos morava em apartamento há um ano. Nos últimos meses a proprietária recebeu várias reclamações e multas do síndico. Ela saía para trabalhar às 13:00 e voltava por volta das 22:00. Durante todo este tempo seu cão latia e uivava sem parar e na maioria das vezes fazia cocô pela casa toda, arranhava a porta e se negava a comer. Como eu fiz Comecei o treinamento pela obediência básica como sentar, deitar e ficar que seriam importantes para diminuir sua hiperatividade e aprender a relaxar. Quando eu fazia o treino, o cão respondia pronta e calmamente. Porém, quando eu solicitava que a proprietária fizesse o mesmo, ele não atendia, inclusive ficando ofegante e ansioso. Percebi que sua dona era uma pessoa ansiosa e estava ficando cada vez mais nervosa. Acompanhamento de psicóloga Então perguntei se ela aceitaria fazer alguns exercícios com uma psicóloga que trabalha comigo, Dra. Lilian Juraski. Na sessão seguinte, fiz os mesmos exercícios e pedi para ela repetir. Novamente o cão não respondeu. A Dra. Lilian observou atentamente a postura da proprietária e iniciou um exercício de relaxamento e outras técnicas enquanto eu ficava em outro cômodo com o Shih Tzu. Terminado o trabalho, pedi novamente para que realizasse o exercício com o seu cão e o resultado foi impressionante. O estado calmo e relaxado que ela apresentava teve uma imediata influência em seu cão. Ele parou de ofegar, focou em sua dona e repetiu tudo de maneira correta. O quanto influenciamos nossos cães Este caso ilustra muito bem o quanto influenciamos nossos cães com nossos sentimentos e problemas. O fato do Shih Tzu não ter nenhuma outra atividade, fez com que seu mundo se resumisse à sua tutora. Como uma esponja, ele absorveu seus problemas agravando sobremaneira sua ansiedade. Os cães são nossos amigos até para ajudar a detectar um problema psicológico em nós mesmos. De modo que, quando tratamos um problema comportamental em nossos cães, devemos fazer uma auto-avaliação para trabalharmos alguns comportamentos que possam estar prejudicando nosso amigo canino e a harmonia entre ele e nossa família.]]>