Nossas Notícias

"A gente já sabia que meu pai ia acabar morrendo de algum jeito se fosse candidato a vereador", desabafa Fumaça, que perdeu o pai em decorrência de COVID

  RIO NEGRINHO. Foi com a disponibilidade de sempre, que Ademir da Mota, o popular “Fumaça”, conversou com a reportagem do Nossas Notícias sobre a morte recente de seu pai, João Maria Ribeiro da Mota, a quinta vítima fatal de COVID na cidade ( leia aqui ). Emocionado, ele contou um pouco sobre o antes e o depois da morte do pai, a quem ele disse que por várias vezes pediu que não fosse candidato vereador. “Seu Mota”, como era conhecido, recebeu 13 votos na eleição. “A gente cansou de pedir que ele não concorresse pois era hipertenso, tinha duas pontes de safena, obeso, diabético e com problemas cardíacos, além da idade avançada. Mas ele nunca nos ouviu, só respondia que esse era um sonho que tinha e que ia buscar realizar”. Ele contou que além desses fatores, a família sabia que “seu Mota”, como era conhecido, ia mergulhar de cabeça na campanha, visitando residências e conversando com muitas pessoas, pois era muito disposto e gostava desse tipo de contato. “Para nós isso estava tão claro que quando começou a se falar da possibilidade de ele ser candidato, fui conversar pessoalmente com algumas lideranças partidárias, pedindo que não incentivassem ele e que o colocassem para fazer outra coisa. Fui muito taxativo, eu sabia que se ele não morresse de COVID-19, que é fatal para pessoas com o perfil dele, ele ia ter uma decepção muito grande e ia ter um infarto”. Conforme o filho, seus pedidos foram desconsiderados e “seu Mota” acabou sendo incentivado por muitas pessoas que lhe diziam que ia conseguir se eleger, pois era muito popular na cidade. “Antes de ser candidato, ele se cuidava. Usava máscara, álcool, mantinha o distanciamento, evitava circular por aí. Mas ele teve uma ilusão, acreditou em promessas que nunca seriam cumpridas e seguiu sem pensar em mais nada. Saía todos os dias, estava em todos os lugares. Eu alertava ele de que política não é assim, também já fui candidato e sei muito bem que existe uma grande diferença entre ser popular e ter popularidade.  E as consequências chegaram. Apresentando sintomas que num primeiro momento pareciam ser de gripe, “seu Mota” acabou contaminando a esposa, a nora ( esposa de Fumaça) e o próprio Fumaça, que ficou em estado grave devido a doença e atualmente se recupera de sequelas da contaminação pelo coronavírus. “Por volta das 15h do domingo (22 de novembro), levei ele para o hospital, pois começamos a desconfiar que poderia estar com COVID, já que tanto ele quanto eu, por exemplo, estávamos sem olfato e paladar. Ele ficou em observação e às 18h, confirmaram que ele estava contaminado e a partir desse momento não conversei mais com meu pai”. Na segunda-feira (23), Fumaça contou que “seu Mota” apresentava-se estável pela manhã e a tarde teve uma crise de ansiedade devido ao isolamento e acabou precisando de oxigênio. “Na terça (24) de manhã, ele piorou e foi entubado. Eu já fui entubado e imagino que deve ter sofrido muito, pois tinha também um problema na coluna, que o impedia de erguer o pescoço. Às 22h, recebemos uma ligação da enfermeira pedindo que fossemos lá. Daí já imaginamos que havia ocorrido o pior”, lembrou. Enquanto estava entubado, “seu Mota” foi colocado na fila de uma vaga para UTI, mas acabou falecendo antes que pudesse ser transferido para outro hospital do estado. “Por volta das 22h, ele teve uma parada cardiorrespiratória e não resistiu”. Depois Fumaça explicou que além de pai, “seu Mota” era seu melhor amigo. Os dois moravam no mesmo terreno e faziam várias atividades juntos. Mas em função da doença, eles não conseguiram nem se despedir, nem fazer velório e nem missa de sétimo dia, pois nesse período a família ainda estava isolada em função da contaminação pelo vírus. “Pense comigo. Entrei no hospital conversando com meu pai e vi ele sair saí morto, carregado num caixão lacrado. A última vez que o vi foi por um vidro, todo machucado em virtude da entubação. Por mais que as pessoas digam que sabem, ninguém sabe na real, o quanto é triste e doloroso”. Fumaça confessou que ainda tem mágoa de várias pessoas que incentivaram a candidatura do seu pai e relatou além das várias mensagens virtuais nas redes sociais, a única ligação que recebeu foi do prefeito Julio Ronconi, se colocando à disposição para ajudar a família em caso de necessidade. “Mas de resto, ninguém nos perguntou se precisávamos de alguma coisa, se minha mãe ia precisar de uma assessoria jurídica, … Estávamos ainda no isolamento em função do COVID, não pudemos providenciar nada para os trâmites burocráticos do sepultamento. Quem fez tudo o que foi necessário foi meu irmão e minha cunhada, que já tiveram COVID”. Ele destacou que a morte do pai foi o ponto final para que tenha interesse em participar ativamente da política, seja como candidato ou apoiador de algum nome. “A meu ver, as eleições não deviam ter ocorrido em nenhum lugar do Brasil. Minha mágoa também é com o sistema político. A falta de cuidado aconteceu em todas as campanhas, em todos os lugares. É só olhar as fotos das campanhas nas redes sociais dos candidatos e dos partidos políticos”. Apesar de tudo, a mensagem dele é para que as pessoas se cuidem, mesmo nesse período que não é mais de campanha eleitoral. “Ainda hoje, todo dia acho que meu pai vai chegar. Infelizmente, o ser humano é assim: tem que passar pela dificuldade para aprender. Por isso sempre peço que o pessoal se cuide. Não queiram passar o que passamos”. Confira também a nossa Live com Leandro Liberato dos Santos, candidato a vereador em Rio Negrinho que foi contaminado com COVID em plena campanha eleitoral clicando aqui Promoções  ]]>

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