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Mais de 2 mil pessoas do Sul do Brasil vão receber o diagnóstico de câncer de colo do útero neste 2024, mostra levantamento de especialistas

PAÍS. Levantamento realizado pelo Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) na base de estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA), em alusão à campanha “Setembro em Flor”, aponta que 2.290 mulheres dos três estados da região Sul – Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul – vão ser acometidas nesse 2024 pelo câncer de colo do útero, doença causada pela infecção pelo HPV e que pode ser prevenida com vacina disponível no SUS.

Somando com os outros dois mais comuns tipos de câncer ginecológico – ovário e corpo do útero (endométrio) – são previstos 4.460 novos casos no ano.

O câncer de colo do útero é o mais comum entre os tumores ginecológicos, tendo como causa as infecções pelo papilomavírus humano (HPV), em especial dos tipos 16 e 18, para os quais há vacina disponível, gratuitamente, no Sistema Único de Saúde (SUS).

Apesar disso, seguem elevadas as taxas de incidência (número absoluto de novos casos) e prevalência (número de casos para cada 100 mil pessoas) entre as mulheres dos três estados da região sul. A estimativa é que 2.290 sulistas tenham recebido o diagnóstico de câncer de colo do útero até dezembro.

Maior incidência em Santa Catarina

A maior prevalência de câncer de colo uterino é observada em Santa Catarina, com 17,20 casos para cada 100 mil catarinenses. A mais baixa é observada no Rio Grande do Sul, com 7,11 casos para cada 100 mil. Em relação à incidência, o maior número também é registrado em Santa Catarina, com 880 casos. O menor número de incidência é registrado no Rio Grande do Sul, com 620 casos.

O levantamento é um alerta alusivo à campanha Setembro em Flor, de conscientização sobre câncer ginecológico.

“Analisando os dados epidemiológicos da região Sul é possível identificar um número muito alto de novos casos, com isso, faz-se necessário direcionar melhor as políticas de saúde. Vemos, por exemplo, que dos três estados que compõem a região Sul, Santa Catarina é o que apresenta maior prevalência nos três tipos de cânceres, exigindo uma atenção maior das autoridades, assim como o Paraná que tem números preocupantes”, ressalta a oncologista Alessandra Morelle, da Comissão de Ética do Grupo EVA e líder da Onco Ginecologia do Grupo Oncoclínicas Porto Alegre.

Somando a incidência de câncer de colo do útero com os outros dois tipos mais comuns de cânceres ginecológicos (corpo do útero/endométrio e ovário), são esperados 4.460 novos casos em 2024 entre as sulistas.

Santa Catarina também registra a maior prevalência de câncer de endométrio (5,01 casos para cada 100 mil) e câncer de ovário (5,64 casos para cada 100 mil).

O Paraná registra a segunda maior incidência de câncer de colo de útero (790 novos casos), sendo a maior incidência de câncer de endométrio (480 novos casos) e câncer de ovário (420 novos casos).

Em todo o país, o câncer ginecológico é um dos mais incidentes nas mulheres, sendo que os três órgãos do sistema reprodutor feminino mais acometidos por tumores malignos somam 32,1 mil novos casos anuais, representando 13,2% de todos os casos de câncer diagnosticados nas brasileiras.

Do total de mulheres do país que recebem, anualmente, o diagnóstico de algum câncer ginecológico, a maioria apresenta tumores de colo do útero: são aproximadamente 17 mil novos casos previstos para 2024.

Em seguida está o câncer de endométrio, com 7.840 casos, seguido por câncer de ovário, com 7.310 casos. O câncer de ovário é o tipo de tumor mais mortal entre os ginecológicos e frequentemente descoberto em estágio avançado. Outros dois tipos, câncer de vulva e vagina, também entram nesse grupo, mas para eles não há dados nacionais oficiais de novos casos por ano.


CÂNCER DE COLO
DO ÚTERO (região Sul)

INCIDÊNCIA
(número de novos casos em 2024)

PREVALÊNCIA
(número de casos para cada
100 mil pessoas / taxa ajustada)
Paraná7909,77
Rio Grande do Sul6207,11
Santa Catarina88017,20
TOTAL2.290 

CÂNCER DE CORPO DO ÚTERO (ENDOMÉTRIO)
(região Sul) 

INCIDÊNCIA
(número de novos casos em 2024)

PREVALÊNCIA
(número de casos para cada
100 mil pessoas / taxa ajustada)
Paraná4804,23
Rio Grande do Sul2802,45
Santa Catarina3205,01
TOTAL1.080 

CÂNCER DE OVÁRIO
(região Sul) 

INCIDÊNCIA
(número de novos casos em 2024)

PREVALÊNCIA
(número de casos para cada
100 mil pessoas / taxa ajustada)
Paraná4205,26
Rio Grande do Sul3603,24
Santa Catarina3105,64
TOTAL1.090 

Fonte: Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) em levantamento feito na base de Estimativas para 2023-2025 do Instituto Nacional de Câncer (INCA)

Setembro em Flor

A campanha foi criada em 2021 pelo Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA). A partir desse movimento, em 29 de novembro de 2023 a deputada Renilce Nicodemos (MDB/PA) apresentou o Projeto de Lei 5782-2023, para incluir no calendário nacional a campanha “Setembro em Flor”, para conscientização sobre os tumores ginecológicos durante o nono mês do ano.

O símbolo da campanha é uma flor, com pétalas de diferentes cores, sendo que cada cor representa um dos cinco tumores ginecológicos (colo uterino, corpo uterino, ovário, vulva e vagina). A flor é um símbolo de vida, pureza, feminilidade, fertilidade, o que representa bem a mulher.

A ação, idealizada há quatro anos pela oncologista clínica Andréa Paiva Gadêlha Guimarães, diretora do EVA e coordenadora de Advocacy, explica que a ação surgiu de uma carência de conhecimento da população brasileira sobre os tipos de câncer que acometem o aparelho reprodutor feminino.  Pelo segundo ano consecutivo, a atriz Marieta Severo será a madrinha da campanha.

“É de extrema importância que a campanha ajude as mulheres a se mobilizarem para a prevenção e o diagnóstico precoce por meio do exame de Papanicolau e a vacinação contra o papilomavírus humano (HPV)”, alerta a oncologista clínica e vice-presidente do EVA, Graziela Zibetti Dal Molin.

O exame de Papanicolau e a vacina contra HPV estão disponíveis e acessíveis na rede pública. Alguns cânceres podem ser silenciosos, assim é válida a conscientização para um rastreio controlado por meio de exames de rotina, atenção para sintomas persistentes e busca por assistência médica.

Nesse sentido, promover educação e ensino em câncer ginecológico é um dos focos do grupo, que busca trabalhar em parceria com outras associações médicas e não médicas para melhor assistência à paciente com câncer ginecológico.

O “Setembro em Flor” de 2024, que tem a atriz Marieta Severo como madrinha pelo segundo ano consecutivo, traz o tema “Há vida além do câncer”.

“Nosso objetivo é oferecer o máximo de conhecimento para a população e, para isso, preparamos muitas ações para o mês de setembro e em diferentes formas de comunicação como: episódios de podcast nas plataformas digitais e no canal do Youtube do EVA, cartilhas educativas, infográficos e ações de vacinação e estímulo a realização dos exames de prevenção”, afirma o gineco-oncologista e presidente do Grupo EVA, Glauco Baiocchi Neto.

Imunização contra o HPV no SUS

A vacina contra o vírus HPV é recomendada para as crianças e adolescentes de 9 a 14 anos; pessoas de 9 a 45 anos vivendo com HIV/Aids, em tratamento de câncer, submetidas a transplantes, com imunodeficiência primária ou erro inato da imunidade, pessoas imunocompetentes de 9 a 45 anos vítimas de violência sexual.

O HPV é uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), que em 90% dos casos é contraído por meio do contato sexual, genital ou oral. O HPV é tão comum que afeta quase 80% das pessoas sexualmente ativas.

Além de representarem a causa de câncer de colo do útero – o tumor ginecológico mais incidente nas mulheres brasileiras – os HPVs oncogênicos também estão associados com outros tipos de tumores malignos.

De acordo com o Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, o número de casos de câncer associados ao HPV por tipo de câncer é de 75% para câncer de vagina, vulva (69%), pênis (63%), ânus (91%) e orofaringe/garganta (70%).

“É fundamental que tanto as mulheres, quanto os homens, de todos os grupos preconizados, recebam as doses da vacina. Desta forma, é quebrada toda a cadeia de transmissão e, assim, são prevenidos diferentes tipos de câncer”, ressalta Andréa Paiva Gadêlha Guimarães.

Sintomas de alerta dos tumores ginecológicos 

Os cânceres ginecológicos podem se manifestar de diferentes formas. Em estágios iniciais, podem ser assintomáticos, mas é importante ficar alerta a alguns sintomas persistentes, que necessitam de investigação, como:

Sangramento vaginal fora do ciclo menstrual;
• Sangramento vaginal na menopausa;
• Sangramento vaginal após a relação sexual;
• Corrimento vaginal incomum;
• Dor pélvica;
• Dor abdominal;
• Dor nas costas;
• Dor durante a relação sexual;
• Abdômen inchado;
• Necessidade frequente de urinar;
• Lesão na vulva ou vagina;
Coceira persistente em vulva ou vagina

Diagnóstico de câncer ginecológico 

Em caso de suspeita de câncer ginecológico é necessário realizar uma série de exames minuciosos para definir o histórico correto da paciente e chegar ao diagnóstico preciso, tais como: ultrassom; radiografia; tomografia computadorizada; ressonância magnética; tomografia por emissão de pósitrons. Após esses exames é necessário que seja feita uma biópsia, para confirmar o diagnóstico. É fundamental que as mulheres estejam cientes dos sinais e busquem avaliação médica regularmente, permitindo assim o diagnóstico precoce, que pode fazer diferença no tratamento e na sobrevida.

Sobre o Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA) 

É uma associação sem fins lucrativos, atualmente presidida pelo ginecologista oncológico Glauco Baiocchi Neto, gestão de 2022-2024, composta em sua maioria por médicos, com missão de combate ao câncer ginecológico, com foco na educação, pesquisa e prevenção, promovendo apoio e acolhimento às pacientes e aos familiares.

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