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Curso técnico atende mercado melhor do que o superior, apontam empresários em pesquisa do SESI/ SENAI

PAÍS. Um em cada três empresários acredita que o ensino técnico é o ponto mais forte da educação brasileira. Para 75% deles, os cursos técnicos são mais ligados às necessidades do mercado do que os de ensino superior.

O levantamento, realizado pelo SESI e pelo SENAI e divulgado nesta quarta-feira (26), mostra ainda que 9 em cada 10 concordam que os cursos técnicos permitem ingresso mais rápido no mercado de trabalho.

De acordo com os 1.001 executivos de pequenas, médias e grandes indústrias ouvidos sobre a educação no país, o ensino técnico deve receber mais atenção dos jovens e ser uma das prioridades do governo. O questionário, aplicado em abril, teve um bloco dedicado ao ensino técnico e à qualificação de mão de obra.

“O Brasil e os empresários brasileiros têm um grande desafio, que é a baixa produtividade, que ganha camadas de complexidade se somarmos alguns fatores que caracterizam o nosso mercado de trabalho: a transição demográfica, com menos jovens compondo a força de trabalho, as altas taxas de desemprego desse grupo, o baixo nível de qualificação profissional e a digitalização, que demanda novos conhecimentos”, avalia o diretor do SESI e do SENAI, Rafael Lucchesi.

Segundo ele, é nesse contexto que o ensino técnico ganha relevância.

“Além de melhorar a empregabilidade do jovem, tirando-o do quadro de exclusão social e proporcionando uma fonte de renda, a educação profissional contribui para melhorar a produtividade do país, ao qualificar o trabalhador”.

Em Santa Catarina, o SENAI investiu nos últimos quatro anos R$ 254 milhões em material didático, equipamentos de TI, máquinas e obras de infraestrutura voltadas à educação.

“São recursos que integram um expressivo pacote de investimentos para a expansão da oferta dos serviços educacionais no estado para qualificar o capital humano demandado pela indústria”, afirma o presidente da Federação das Indústrias de Santa Catarina (FIESC), Mario Cezar de Aguiar.

“O setor tem pela frente grandes desafios, como qualificar 802,9 mil pessoas em ocupações industriais, sendo 152,9 mil em formação inicial”, acrescenta o diretor de educação, saúde e tecnologia da FIESC, Fabrizio Machado Pereira.

Entre as etapas de formação, o ensino técnico, também conhecido como profissionalizante, aparece com a melhor avaliação (55% acham ótimo ou bom e 9% ruim ou péssimo), seguido pela especialização/pós-graduação (54% ótimo ou bom e 9% ruim ou péssimo). Por outro lado, o ensino médio (14% bom e 39% ruim ou péssimo) e a alfabetização (21% ótimo ou bom e 38% ruim ou péssimo) ficam na lanterna.

Vale lembrar que pesquisa semelhante foi realizada com a população, em dezembro do ano passado, e os empregadores são mais críticos que a sociedade: 45% dos empresários avaliam a educação no país como ruim (26%) ou péssima (19%) e só 9% como boa. Entre a população, os índices eram: 23% de ruim (9%) ou péssima (14%), 22% como boa e 8% ótima.

Outra prova de que a educação profissional alcançou o reconhecimento de lideranças é que 1/3 dos entrevistados o colocam como o ponto mais forte na educação pública no Brasil. Em seguida aparecem ensino superior, como escolha de 23%, e ensino fundamental, com 12%. Na lista de pontos fracos da rede pública, lideram o ensino fundamental (citado por 36% como o nível mais fraco), o ensino médio (29%) e a alfabetização (19%).

Na visão dos empresários, os pontos positivos da formação técnica são: preparar melhor para o mercado de trabalho (45%), cursos mais focados (28%), cursos mais práticos (22%), boa aceitação no mercado de trabalho (18%), ter mais conhecimento/habilidades (17) e começo na carreira profissional (16%).

Ainda, 9 em cada 10 concordam que os cursos técnicos permitem ingresso mais rápido no mercado de trabalho e que é mais fácil conseguir um emprego com formação profissional. Para 85%, os cursos técnicos permitem concorrer a uma oferta maior de vagas de emprego. Na comparação com o ensino superior, para 63% o curso técnico dá grande vantagem para se conseguir o primeiro emprego; e, para 75%, são cursos mais ligados às necessidades do mercado.

Questionados sobre os obstáculos para os jovens se engajarem no ensino técnico, os entrevistados apontam falta de interesse pessoal (34%), falta de incentivos (25%), falta de informação (22%) e falta de vagas (15%).

Se pudessem recomendar uma formação técnica para um jovem, 30% indicariam na área de Tecnologia da Informação (TI), 10% na mecânica, 9% eletricista, 8% em administração, 5% automação industrial e 4% mecatrônica.

Essas áreas e ocupações não aparecem por acaso. Olhando para as inovações tecnológicas que estão impactando as cadeias e processos produtivos, 7 de cada 10 empresários (68%) afirmam, em pergunta espontânea, que as atividades mais promissoras para os jovens no Brasil nos próximos 10 anos são de TI, áreas da saúde (11%), engenharias (10%), automação industrial (5%) e agronomia (4%).

É diante do desafio de conciliar as demandas do setor produtivo com as políticas para a juventude que ⅕ dos empresários (21%) colocam o ensino técnico como prioridade na pauta educacional do governo para os próximos anos, ficando atrás apenas do ensino fundamental (33%) e na frente da alfabetização (18%) e do ensino médio (17%).

Hoje, em uma escala de 0 a 10, os empresários dão nota 4,5 para o incentivo do poder público ao desenvolvimento do ensino técnico no país.

Para 46% das pessoas ouvidas, a qualificação dos trabalhadores é mais responsabilidade do estado que da iniciativa privada; para 28%, essa ação deve ser compartilhada igualmente; e 9% defendem que é mais da iniciativa privada que do estado. Só 13% acreditam que é exclusivamente do estado e 2% exclusivamente do setor privado.

É só olhar os dados de matrícula para entender o tamanho do desafio e o potencial para expandir a educação profissional, especialmente entre os jovens que buscam o primeiro emprego.

No Brasil, apenas 9% dos alunos do ensino médio fazem um curso técnico ou de qualificação. Na União Europeia, esse percentual é de 43%; no Chile, 29%; e, Colômbia, 24% (Education at a Glance 2021/OCDE).

Ainda que muitos optem pela formação após o ensino médio, o avanço das matrículas no geral tem sido lento: entre 2017 e 2022, foi de 1,8 milhão para 2,1 milhões, ou 17,5%. A meta prevista no Plano Nacional de Educação (PNE) 2014-2024 era de 4,8 milhões de matriculados para o ano que vem. Junte-se a isso o fato de que só 23,8% dos brasileiros de 18 a 24 anos estão no ensino superior, segundo o Anuário Brasileiro da Educação Básica 2021.

“A última etapa do ensino obrigatório virou uma rua sem saída para milhares de estudantes. A baixa qualificação nessa fase tão determinante para a trajetória profissional tem reflexos na inserção e permanência no mercado de trabalho, ou seja, não só na identidade social e na renda desse jovem, como também na produtividade das empresas”, alerta o diretor do SESI/SENAI.

O que é educação profissional e quem oferta?

A Educação Profissional e Tecnológica (EPT), também conhecida como ensino profissionalizante, é uma modalidade da educação nacional cujo objetivo é preparar o aluno para o exercício de uma profissão. Se enquadram na modalidade: cursos técnicos; de qualificação; graduação tecnológica, ou tecnólogo; mestrado e doutorado profissionalizante.

O tipo de curso mais conhecido e difundido é o técnico, que tem duração média de 1 ano e meio a dois anos e pode ser cursado por quem está no ensino médio ou já concluiu.

Entre as principais instituições que ofertam educação profissional no país estão: os Serviços Nacionais de Aprendizagem por setor (SENAI atende indústria; SENAC, o comércio; SENAR, a agricultura e pecuária; SENAT, transporte); os Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia e as escolas técnicas vinculadas às universidades, pela rede pública federal; além de instituições públicas estaduais (como o Centro Paula Souza, em São Paulo) e as escolas privadas.

Com informações da CNI

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