SANTA CATARINA. O velório da pequena Kiara Crislayne de Moura dos Santos, por si só já foi marcado por muita tristeza neste sábado (19), na Capela Mortuária São José, em Correia Pinto. A cerimônia começou no início da manhã, porém, a situação ficou ainda mais dramática e caótica quando os presentes notaram que a pequena apresentava sinais que indicavam que poderia estar viva.
A menina completaria nove meses nesta segunda-feira (21). Em meio a muita comoção de familiares e amigos, do velório ela foi levada novamente ao Hospital Faustino Riscarolli, onde teve o segundo óbito declarado em menos de 24 horas.
O caso foi marcado por muitas informações desencontradas entre os envolvidos e nesta reportagem você confere versões da família, dos bombeiros, da funerária e da prefeitura. A situação tem movimentado a internet e ganhou repercussão nacional, gerando muitos questionamentos acerca dos detalhes dos acontecimentos.
Cristiano, pai de Kiara, foi entrevistado pelo portal Biguá Tá On e em vídeo replicado amplamente por vários veículos de comunicação nas redes sociais, contou que na quinta-feira (17), ela passou mal e foi levada ao mesmo hospital, onde foi atendida por um médico, que apontou como sendo “dr. Wagner”. Segundo ele, foi constatado que a criança estava com uma virose, recebeu soro, medicação e foi liberada para voltar para casa.
Ele contou que no dia seguinte ela teve vômitos e diarreia, passando a base de medicamentos. Mas por volta das 02h25 de sábado (19), acordou juntamente com a esposa e ambos viram que Kiara não estava bem, então decidiram acionar o socorro.
“Às 02h32 liguei para o 193, mas os bombeiros não apareceram. Às 02h35 liguei para minha mãe e às 02h40, para os bombeiros novamente. Acabei chamando um Uber, que nos levou ao hospital”.
De acordo com o pai, lá a menina foi atendida novamente pelo mesmo médico, que fez massagem em seu peito e colocou um tubo afastado (semelhante a um nebulizador) em seu nariz.
“Ele pediu ajuda mas não conseguiu reanimá-la. Colocou um ferro por dentro da garganta dela e empurrou um tubo. Continuou fazendo as massagens, não obteve sucesso e declarou o óbito. Acionamos o pessoal da funerária, que fez os procedimentos e o corpo foi liberado para o IML”.
O que aconteceu enquanto Kiara estava sendo velada
Durante o velório, a menina estava bastante quente e seu pai relatou também que por volta das 14h30, quem pegava em sua mãozinha sentia “as puxadas” que ela dava.
“Acionamos um enfermeiro, que colocou um aparelho no dedo dela, constatou haver batimentos cardíacos e acionou as conselheiras tutelares, que foram ao local com os seus aparelhos e atestaram a mesma coisa”.
Já na sequência, por volta das 19h30, os bombeiros foram acionados e segundo Cristiano, confirmaram que ela estava com 65 batimentos cardíacos por minuto e 86% de saturação.
“Automaticamente ela tinha vida”, lamentou o pai.
A menina foi levada para o hospital, mas sem acompanhamento de um responsável.
“Não deixaram a gente entrar na ambulância. Eu, como pai, fiquei indignado! Perguntei o que iam fazer e falaram que estavam levando-a para atendimento e acionando o helicóptero Águia, que a levaria para Lages, já que tinha pulsação”.
Emocionados, Cristiano e demais familiares avisaram as pessoas que estavam no velório e pediram para que orassem.
Enquanto isso, …
“No hospital, pegaram a menina, levaram para dentro de uma sala e não deixaram ninguém entrar. Não sei qual procedimento fizeram, mas depois de uma meia hora falaram que não tinham conseguido pegar nada, nenhuma pulsação”.
Informações desencontradas
Cristiano lamentou as várias informações desencontradas que recebeu desde o primeiro atestado de óbito da filha.
“Ficamos indignados! Na primeira certidão de óbito, o dr. Wagner declarou o motivo como sendo afogamento por vômito e no laudo médico, colocou como desidratação. Um enfermeiro falou na madrugada que ela teve uma parada cerebral e nesse caso pode haver sinais vitais, e se tem sinais vitais, tem vida. Então não podiam ter liberado a certidão de óbito!”.
Na segunda vez no hospital
Já na segunda vez em que esteve no Faustino Riscarolli, Cristiano falou que lhe apresentaram um laudo do cardiologista, dizendo que não acharam nada de batimentos.
“Mas tinha um papel (de exame do coração) em branco. Sem uma assinatura, nada escrito, … Um enfermeiro disse que ela pode ter morrido vindo da funerária pro hospital… É negligência! Aqui está um pai inconformado! Só falam que foi constatado óbito! A gente pergunta o que foi feito e ninguém passa nada. Só liberaram a entrada na sala depois que encerraram tudo. Isso não se faz!”.
O que dizem os bombeiros
No relatório da ocorrência, os socorristas informaram que um oxímetro infantil registrou uma saturação de 83% de oxigênio e batimentos de 66 bpm no corpo da criança. Eles relataram que observaram que, embora a bebê não apresentasse rigidez na região das pernas e tivesse batimentos fracos, não havia atividade elétrica detectável em seu coração, conforme exames realizados posteriormente.
A corporação local garantiu ainda que a equipe de resgate realizou uma série de verificações para confirmar o estado de Kiara.
“O uso de um estetoscópio revelou batimentos cardíacos fracos, e a perfusão nos membros inferiores foi considerada normal. Contudo, as pupilas estavam contraídas e não reagiam à luz, e edemas foram identificados na região do pescoço e nas orelhas. Diante desses sinais, a decisão foi de transportar a criança ao hospital, para uma avaliação mais aprofundada”.
Funerária
Áureo Arruda Ramos, proprietário da Funerária São José, que cuidou dos trâmites para as despedidas da menina, explicou que a tanatopraxia não é realizada em crianças, como muitos questionaram nas redes sociais. Ele falou também que somente após receber o atestado de óbito diretamente no hospital e ali assinar um livro que registra o número da Declaração de Óbito, o corpo de Kiara foi levado para a funerária.
“A gente só remove um corpo de um hospital ou do lugar onde ele estiver, através da Declaração de Óbito, assinada por um médico. Quem nos chama é o hospital ou a família. Neste caso, quem me chamou foi o hospital e quem autorizou foi o pai”.
“Quando chegamos na funerária, a família foi buscar a roupa da menina em casa. Nesse intervalo demos o banho na bebê, vestimos a roupa e colocamos dentro da urna”.
Ele garantiu que no final da tarde, quando recebeu a informação de que ela poderia estar viva, orientou que alguém entrasse em contato com os bombeiros ou com o hospital para que alguma providência fosse tomada.
“Ou ainda que a levassem ao hospital. Quando cheguei na funerária, estava um farmacêutico vizinho, já tomando as providências e o Conselho Tutelar. Em seguida, os bombeiros foram chamados”.
Prefeitura se pronuncia
A Prefeitura de Correia Pinto divulgou uma nota oficial sobre o caso. Confira abaixo:
A reportagem aqui do Nossas Notícias se solidariza com a dor da família e deseja que todas as evidências desta triste ocorrência sejam esclarecidas com o laudo oficial.