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“Foram mais de 50 mortos e quando cheguei em casa ainda ouvia o som dos vários geradores que havia lá”, relembra Augusto Vellasques neste Dia do Bombeiro 

Foto: Arquivo/Carlos Junior/ND

RIO NEGRINHO. “Uma cena que parecia de filme”. Assim descreveu o cabo Augusto Vellasques sobre uma das ocorrências que mais lhe marcou em sua carreira como bombeiro. 

Hoje (02) é Dia do Bombeiro e a exemplo de anos anteriores, a reportagem aqui do Nossas Notícias publica algumas reportagens com histórias que mais marcaram a trajetória de bombeiros que trabalham na cidade. 

Esse atendimento do qual Vellasques participou porém, aconteceu na Serra Dona Francisca (SC 418) e assim como ele, outros bombeiros de Rio Negrinho e de outras cidades foram acionados para prestar socorro nesta que foi, nada mais nada menos que a maior tragédia rodoviária da história de Santa Catarina. Era 14 de março de 2015 e um ônibus com passageiros que haviam saído de União da Vitória (PR) e de Porto União (SC), seguia pela SC 418 com destino a um evento em Guaratuba, no litoral paranaense.

Por volta das 17h51, o veículo, da empresa Costa & Mar Turismo, despencou na curva do km 88, em Joinville. 51 pessoas morreram: eram homens, mulheres e crianças. 

Enquanto isso aquele era um dia de treinamento para um grupo de bombeiros de Rio Negrinho. Eles participavam de uma atividade de resgate veicular no Lençol, na divisa da cidade com São Bento do Sul. 

“Lembro que a gente estava com uma viatura reserva, tinha alguns bombeiros militares e alguns bombeiros comunitários… De repente começamos a ouvir um monte de ambulâncias passando…”

” ‘Caramba, que loucura!’ … Logo tocou o telefone do subtenente que estava responsável pelo nosso treinamento. Era um comandante de área do dia, avisando que tinha acontecido um acidente na serra, com mais de 30 vítimas e que não se sabia mais detalhes sobre o ocorrido”. 

Vellasques disse que após explicar a situação, o comandante disse para a equipe ir para o local da ocorrência. 

“A gente foi. Éramos eu, o sargento Nogueira e mais alguns bombeiros comunitários. Quando chegamos, estava aquele ‘mundo’ de viaturas assim, bem na curva onde aconteceu o acidente… Aquela fila gigantesca de ambulâncias, uma do lado da outra,… e bem na hora subindo helicóptero também. Havia um monte de caminhões… Foi uma cena tipo de filme”, relembrou. 

Augusto disse que aos poucos e com as explicações do bombeiro que comandava o resgate, ele e o grupo foram entendendo o que estava acontecendo. 

“Então nos aproximamos e começamos a fazer o resgate. Menos de 10 vítimas sobreviveram, o resto eram todos pessoas em óbito, mais de 50. Ficamos até umas 2 horas da madrugada puxando corpos. Foi bem intenso, porque era um trecho longo, com bastante declives e estava molhado, muita lama… Então era difícil de permanecer em pé. Agora imagine você passar todo esse trecho de mata, carregando o corpo de uma pessoa inconsciente, fica muito pesado. Era exaustivo trazer uma pessoa, imagina mais de uma!”.

Vellasques contou que chegou uma hora em que as equipes que trabalhavam no local chegaram a pedir ajuda dos populares que estavam na fila, de tão difícil que estava subir com os corpos pelo trecho. 

“‘Oh, quem é voluntário aí para começar a nos ajudar a puxar as pessoas aqui?’ Foi assim que foi chamado, porque estava muito cansativo, assim sabe? E fizemos isso várias vezes. Foi algo tão surreal que montamos um sistema de geradores para ficar de dia e de noite lá. Era de noite mas parecia dia, de tanta luz que vinha dos geradores. Quando cheguei em casa, escutava os barulhos dos geradores ainda, de tão forte que foi ficar naquele ambiente por tanto tempo”.

Sim, a cena parecia de filme, mas infelizmente era real! (Matéria continua depois da foto)

Augusto Vellasques

“A gente puxava pessoas amputadas, pessoas com algum tipo de fratura, trazia crianças no colo… Daí, depois a gente colocou todas elas em um mesmo ambiente perto das ambulâncias. Na sequência, depois que todas haviam sido retiradas, começamos a colocar todas essas pessoas dentro das viaturas, para levar para o IML. Era um trem de socorro, um comboio de viaturas levando pessoas para o IML. O IML também estava tipo aquelas cenas de filme, os corredores ficaram cheios de sangue, as pessoas colocadas uma do lado da outra … Parecia  filme de guerra, sabe? Com os corpos colocados um do lado do outro, um cenário bem tenso também…”. 

Eram cerca de 2 da manhã quando foi tirado o último corpo, do motorista, que havia ficado encarcerado no ônibus. 

“Metade do corpo dele estava para fora da terra e a outra metade dentro da terra, cercado por umas raízes …  Foi necessário um resgate bem pesado para conseguir retirá-lo. Só ali foi mais de 1 hora de trabalho em equipe. Retornamos e me lembro do cansaço daquele dia, da imagem… Foi a noite inteira, vendo todas aquelas pessoas, toda aquela tristeza… Então foi uma ocorrência que me marcou bastante”, finalizou. LEIA TAMBÉM:

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