Nossas Notícias

O Halloween atravessa o sinal, por Elenice Lietz

Texto escrito a partir de uma cena registrada pela autora em Curitiba (PR) neste 31 de outubro de 2021

Na cidade grande HALLOWEEN corre nas ruas, atravessa o sinal, grita, abana, ri sozinho, anda apressadamente como se tivesse compromisso importante.

Mora em barracos sombrios, entre cobras, baratas e aranhas; assusta os ‘normais’ que passam com cara de múmias.

Fazem mágica todos os dias pra sobreviver! Em meio ao mundo do sucesso, seu fracasso também prospera…

Observo crianças, adolescentes e pasmem… adultos enfileirados dentro dos shoppings para gastar seu dinheiro em adornos nada realísticos como capas diabólicas, tintas imitando sangue e outras milhares de maluquices só pra fazer parte do inconsciente coletivo ou processo de manada…Entendam como queiram!

Observo ao passar com meu carro na grande EXCLUDÓPOLE uma calça preta rasgada do joelho à canela, um daqueles blazers de ombreiras da década de 90 também preto, enorme desbotado e rasgado … nas canelas marcas de sangue de tiro, de tudo que fere, marcas de fome, calçava apenas um chinelo…

FANTASIA REAL, que paradoxo!

O HALOWEENN das EXCLUDÓPOLES não parece divertido, a realidade das ruas, do crack, da violência que mata, a realidade dos MORTOS VIVOS!

Unhas podres, sujas, quebradas dentes podres pele amarelada, cabelo nojento… é isso que as lojas vendem para as pessoas no Haloween.

Observo um menino com uma roupa de esqueleto, parecia engraçado, apenas parecia, depois do HALOWEEN que atravessou o sinal nada mais tinha graça, mas só eu via!

Na avenida meu carro avançou e tive que seguir sem saber a que festa quem sabe ele iria. Não precisa dizer, não havia festa. Apenas prédios, cimentos, arames farpados, marmitas jogadas nas calçadas, pombos e bitucas de cigarros, um fina chuva no domingo cinzento,…

Ele não precisava de fantasia, mas por usar ela todo santo dia tornou-se invisível, mal cheiroso, tanto faz é “só um mendigo vagabundo do crack”, da cidade grande, dos grandes edifícios, de grandes fortunas e de imensas pobrezas!

Sempre me pergunto: será porque só eu que vejo? “Gostosuras ou travessuras?”

Elenice Lietz é psicóloga; especialista em Terapia Sistêmica Individual, Casal e Família; perita em habilitação para adoção na Comarca de Rio Negrinho. Ela também é uma das participantes do projeto Oficinas Literárias Online, promovido pelo portal Nossas Notícias.

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