Nossas Notícias

Giovani Vieira, surdo. Meta de vida: ser professor de crianças surdas, para que como ele, elas possam chegar onde quiserem

[caption id="attachment_43655" align="alignnone" width="300"] Giovani e sua mãe, Zenita Vieira, receberam a reportagem do Nossas Notícias em sua casa[/caption] RIO NEGRINHO. Giovani Vieira tem 23 anos e leva uma vida normal, exatamente como qualquer outro jovem de sua idade. Mora com a mãe, tem um cachorro que é seu “xodó”, tem bastante habilidade com informática, trabalha na Farmácia Popular no Mak Center e daqui a quatro meses vai concluir a faculdade de Letras – LIBRAS na Uniasselvi. Seu projeto de futuro? Ser um professor de Libras para que crianças surdas como ele recebam o mesmo apoio e incentivo que o ajudaram a superar as barreiras do preconceito e bullying. Só por esse breve currículo Giovani já é por si só uma pessoa na qual podemos ( e devemos!) nos inspirar . Porém, pelas cerca de duas horas em que fui recebida em sua casa para fazer essa reportagem, descobri que sua história tem muitos detalhes que confirmam que a única diferença entre as pessoas está mesmo na sua força de vontade e na forma de encarar a si, aos outros e à vida, com uma percepção que vá além do senso comum. Giovani é filho de Zenita, que aos 25 anos descobriu que o filho que nasceu ouvindo normalmente tinha ficado severamente surdo após o que ela contou ter sido um erro médico. “Ele era bebê ainda e teve uma otite. Levei ele na pediatra e ela receitou um remédio que ‘empurrou’ a infecção para dentro do ouvido. Demorou muito tempo para essa infecção sarar, levamos a muitos médicos, ele tomou muitos outros remédios até que um especialista em Curitiba (PR ) acabou receitando um remédio que finalmente ‘secou’ a infecção e daí surgiu o diagnóstico”. Num primeiro momento ela disse que ficou “sem chão” ao saber que o filho havia ficado surdo. “Não sabia bem o que ia fazer nem como ia fazer. Eu precisava trabalhar e ao mesmo tempo tinha muita preocupação que ele fosse maltratado, discriminado, que sofresse”. A família morava em Rio Negrinho e logo se mudou para Rio Negro ( PR ). Lá, Giovani ainda no maternal, começou a receber aulas de Libras e a frequentar uma escola com professor especializado no CAEDA. Até que quando foi começar a frequentar a 5ª série, seus pais descobriram que ele não teria o segundo professor. “Eu trabalhava na prefeitura na época ( Zenita é educadora ). Mas pedi a conta e viemos morar em Rio Negrinho, onde ele estudou no Aurora e no Marta Tavares , sempre com o segundo professor e depois no Jorge Zipperer, onde concluiu o Ensino Médio”. Da época da escola, Giovani, em língua de sinais ( traduzida pela mãe ), contou que lembra das aulas de dança ( ele fazia Hip Hop e chegou, inclusive a representar o Marta Tavares no Festival de Dança Municipal ), lembra também de jogar vôlei e infelizmente, do preconceito e bullying que sofreu. “Hoje acho que sofrer preconceito é normal quando você é diferente. Na escola, sempre tive mais amigas meninas, os meninos já tinham bem mais preconceito. Hoje tenho muitas amigas e amigos, nos comunicamos por Libras e por leitura labial também. Posso dizer que sou feliz com a vida que levo e na cidade onde moro e gosto muito, não penso em me mudar daqui” . Ele e a mãe tem uma amizade e cumplicidade muito fortes, um exemplo de fato, que fica muito nítido. E a confiança é um ponto chave da relação. “O surdo é muito perfeccionista. Claro, acompanho ele, ajudo. Mas ele se vira muito bem sozinho, tanto que já foi viajar para Porto Alegre ( RS ), de avião, sem mim”. Na capital gaúcha ele participou de um congresso da Igreja Testemunhas de Jeová, religião que frequenta por ter se encontrado de fato. Além de se comunicar escrevendo o Português, Giovani já fez vários cursos na área de Libras ( e ministrou alguns também ). Inclusive ele se formou em Libras Americanas ( para falar em inglês ) e em Libras Tátil, específica para pessoas surdas e cegas. “Ele sempre foi muito estudioso, sempre foi um exemplo na escola. Tanto que quando eu fiz meu primeiro curso de Libras, ele era criança e me acompanhava. Na sala, ensinava a gente a fazer os sinais bem perfeitamente. Na adolescência também nunca deu trabalho”. O comportamento exemplar e a força para não se abalar diante da deficiência são para Zenita, também resultado do acompanhamento da família e em especial do professor Marino, com quem teve aulas durante muitos anos na APAAC ( Associação de Pais e Amigos da Audiocomunicação ). “O professor Marino é surdo, mas em grau mais leve. Ele também fala também e é um grande incentivador dos surdos. Teve uma excelente formação fora da cidade e realmente se dedica muito aos alunos. Corre em busca de vagas de emprego, acompanha nas entrevistas com os RH’s, traduzindo as falas dos alunos … Ele aconselha, está sempre junto. Como educadora que sou, posso dizer que é um exemplo de profissional, pois faz tudo com amor”. E assim como o professor, Giovani também se dedica a “construir pontes” entre surdos e não surdos. Ele contou com orgulho que na farmácia onde trabalha, a gerente, sua chefe, lhe pediu para que ele lhe ensinasse Libras. Em troca, ela também lhe dá algumas aulas de Português. E não para por aí: ele está ensinando Libras para o farmacêutico que recentemente foi admitido na empresa além de incentivar as demais colegas de trabalho a aprender a língua de sinais. No seu dia a dia, nunca está sozinho. No mundo adulto, não lhe pesam as marcas do preconceito enfrentado na infância. Tem amigos surdos e não surdos em Rio Negrinho e em vários outros lugares do mundo. Ele participa também de um grande grupo virtual de surdos, que diariamente conversam sobre os mais diversos assuntos, “de forma diferente que a dos não surdos”, como apontou. E mais do que conversar pela internet, eles também se divertem juntos, ao vivo. “Antes da pandemia, eles iam para o Beto Carrero uma vez por ano. Já teve até uma menina surda que veio dos EUA para fazer o passeio com eles”, contaram ele e a mãe. Ele fez questão de destacar que conversa com um amigo que mora na Rússia e com outro que mora no Japão. Com o apoio da mãe, que correu para viabilizar para ele e outros amigos surdos, um professor de Libras para as aulas de direção no CFC Conceito, ele foi aprovado nas provas teóricas e aguarda com ansiedade as provas práticas. Com a CNH em mãos e dirigindo seu próprio veículo, mais uma vez, ele vai provar que não existem limites para quem faz dos ‘limões’ da vida uma grande ‘limonada’. Enfim, além de ser quase formado para ser um professor na escola, já é um grande professor da ‘faculdade da vida'”. Promoções

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